Silêncio em três atos
Nesta quarta edição do limbo dos poetas, trazemos um poema de nossa querida Dora!
Deseja ter sua arte publicada aqui? Nos envie seu texto, prosa, poesia ou prosa potética no e-mail adecadenciadoanjo@hotmail.com e, se possuir blog, envie junto para que possamos linka-lo!
Enterre as letras, Manuel.
Enterre os poemas, os dizeres.
Maria não te ama mais, meu velho.
Maria não te escuta mais!
Afogue-se em teu vinho, cumpadre.
Beba o difunto, beba à amiga dor!
Mas não te esqueças das palavras,
Formadoras das terríveis ilusões.
Maria uma vez amou os adjetivos,
Àqueles que compunham teus poemas.
Amou quiçá teus erros de escrita, de ignorante.
Mas hoje ela odeia tua prosopopeia,
Teus dizeres apaixonados, teus anseios!
Hoje Maria quer teu silêncio, cumpradre Manuel.
“Avista aquele homem ali, José?”
“Aquele caído na
sarjeta?”
“Este mesmo, José.
Gostaria de saber qual
é seu problema?”
Manuel engoliu mais um
gole da pinga,
Banhada
a lágrimas e saudade.
Em
suas mãos, um papel sujo e manchado,
Manchado
com sua dor e sua pieguisse.
“Uma
vez, há muito tempo, ele amou.
Amou
palavras, romance e Maria.
E
então veio o fim, seguido de um ponto final.”
Manuel
sequer ouvia, sentia ou vivia.
O
papel borrado fundira-se à sua pele,
Lembrando-o
dia após dia das odiadas palavras.
Anos a fio passou-se desde o início.
Manuel permaneceu sofrendo, calado.
Pois houve um
dia, há muito tempo atrás,
Que ele falou e
– adivinhe? – escreveu!
Desde aqueles
dias, as palavras eram silêncio.
Eram ouvidas ao
vento, intermináveis.
Nunca quietas,
nunca caladas!
Eram os vampiros da
vida de Manuel.
Pois um demônio não esquece
sua presa.
Afinal, há muito
tempo, Manuel o amou.
Amou as palavras e sua
sonoridade.
E somente por isso,
elas o atormentavam.
E assim seria até sua
morte – quiçá depois.
Maria estaria nos
poemas e em seu coração,
Para o terrível sempre.
Texto escrito para o Céu Litérário.
Outros atos sobre o silêncio, de Vitor
Vallombroso, Huirian, Huirian, Amanda,Felipe e Mara.