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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Limbo dos poetas - Silêncio em três atos

Silêncio em três atos



               Nesta quarta edição do limbo dos poetas, trazemos um poema de nossa querida Dora! 
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Enterre as letras, Manuel.
Enterre os poemas, os dizeres.
Maria não te ama mais, meu velho.
Maria não te escuta mais!

Afogue-se em teu vinho, cumpadre.
Beba o difunto, beba à amiga dor!
Mas não te esqueças das palavras,
Formadoras das terríveis ilusões.

Maria uma vez amou os adjetivos,
Àqueles que compunham teus poemas.
Amou quiçá teus erros de escrita, de ignorante.

Mas hoje ela odeia tua prosopopeia,
Teus dizeres apaixonados, teus anseios!
Hoje Maria quer teu silêncio, cumpradre Manuel.


“Avista aquele homem ali, José?”
“Aquele caído na sarjeta?”
“Este mesmo, José.
Gostaria de saber qual é seu problema?”

Manuel engoliu mais um gole da pinga,
Banhada a lágrimas e saudade.
Em suas mãos, um papel sujo e manchado,
Manchado com sua dor e sua pieguisse.

“Uma vez, há muito tempo, ele amou.
Amou palavras, romance e Maria.
E então veio o fim, seguido de um ponto final.”

Manuel sequer ouvia, sentia ou vivia.
O papel borrado fundira-se à sua pele,

Lembrando-o dia após dia das odiadas palavras.



Anos a fio passou-se desde o início.
Manuel permaneceu sofrendo, calado.
Pois houve um dia, há muito tempo atrás,
Que ele falou e – adivinhe? – escreveu!

Desde aqueles dias, as palavras eram silêncio.
Eram ouvidas ao vento, intermináveis.
Nunca quietas, nunca caladas!
Eram os vampiros da vida de Manuel.

Pois um demônio não esquece sua presa.
Afinal, há muito tempo, Manuel o amou.
Amou as palavras e sua sonoridade.

E somente por isso, elas o atormentavam.
E assim seria até sua morte – quiçá depois.
Maria estaria nos poemas e em seu coração,
Para o terrível sempre.



Texto escrito para o Céu Litérário. Outros atos sobre o silêncio, de Vitor Vallombroso, Huirian, Huirian, Amanda,Felipe e Mara.



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