Se for abandonar, abandone. Mas não
é assim que se deve ir embora. Se afastar aos poucos só vai prolongar sua
partida. Se for, que vá de vez; grite, brigue, bata a porta e não volte nunca
mais. Não tente se afastar aos poucos. Mate-me de fome, mas não me alimente com
migalhas.
Se for abandonar, vá de vez. Não
existe uma maneira de fazer isso sem me machucar. Você não vai conseguir me
proteger. Se não quer me ver chorar, me fala, que eu não faço isso na sua
frente. Mas não prolonga, não insiste, não me faz pensar que a gente ainda existe.
Se for abandonar, avise. Não saia
na calada da noite após me dar um beijo pra depois voltar de manhã. Não arranje
desculpas quando o que eu quero é uma explicação. Não me deixe esperando, não
me prometa nada, se é isso que quer basta dizer. Basta dizer...
Se for abandonar, abandone.
Abandone, mas não fuja. Fugir pra quê? Te deixo livre pra ir embora na hora que
quiser. E se a ideia é fingir que está aqui pra poder voltar sempre que quiser,
também não tem problema. Se você não sabe se vai ou se fica, eu sugiro ficar.
Mas é ficar mesmo, ficar de verdade, não ficar como alguém que não quer se levantar
da cadeira pra não perder o lugar caso saia.
Se for abandonar, vá correndo.
Não me mate aos poucos de veneno fraco. Apunhale, maltrate, despeje seu
abandono de forma torrencial, me esmague, me dilacere, mas olhe na minha cara
enquanto faz isso. Olha bem pra mim e me diz o que foram todos esses meses.
Tédio?
Se for abandonar, tenha a coragem
de abandonar de frente. Você não vai conseguir ir embora sem ser notado. Não dá
pra sair à francesa, eu estou olhando pra você.
Mas se for abandonar, meu bem...
Se for abandonar, mude de ideia.