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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

manual do abandono



Se for abandonar, abandone. Mas não é assim que se deve ir embora. Se afastar aos poucos só vai prolongar sua partida. Se for, que vá de vez; grite, brigue, bata a porta e não volte nunca mais. Não tente se afastar aos poucos. Mate-me de fome, mas não me alimente com migalhas.

Se for abandonar, vá de vez. Não existe uma maneira de fazer isso sem me machucar. Você não vai conseguir me proteger. Se não quer me ver chorar, me fala, que eu não faço isso na sua frente. Mas não prolonga, não insiste, não me faz pensar que a gente ainda existe.

Se for abandonar, avise. Não saia na calada da noite após me dar um beijo pra depois voltar de manhã. Não arranje desculpas quando o que eu quero é uma explicação. Não me deixe esperando, não me prometa nada, se é isso que quer basta dizer. Basta dizer...

Se for abandonar, abandone. Abandone, mas não fuja. Fugir pra quê? Te deixo livre pra ir embora na hora que quiser. E se a ideia é fingir que está aqui pra poder voltar sempre que quiser, também não tem problema. Se você não sabe se vai ou se fica, eu sugiro ficar. Mas é ficar mesmo, ficar de verdade, não ficar como alguém que não quer se levantar da cadeira pra não perder o lugar caso saia.

Se for abandonar, vá correndo. Não me mate aos poucos de veneno fraco. Apunhale, maltrate, despeje seu abandono de forma torrencial, me esmague, me dilacere, mas olhe na minha cara enquanto faz isso. Olha bem pra mim e me diz o que foram todos esses meses. Tédio?

Se for abandonar, tenha a coragem de abandonar de frente. Você não vai conseguir ir embora sem ser notado. Não dá pra sair à francesa, eu estou olhando pra você.

Mas se for abandonar, meu bem...


Se for abandonar, mude de ideia.
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