Lucas (Shikim), isso é pra você.
Dos céus que não tem estrelas.
Do que foi dito, um dia
desses, sobre estrelas que não vão pro céu. Um céu que não atrai estrelas deve
ser bem triste também, não? Mas você pode ver um se olhar para cima, se vive em
cidade grande.
E que sejam eles:
Os céus das
cidades
Das insanidades
Dos vãos lampiões.
E que sejam eles:
Os céus da sarjeta
Da dor que se
injeta
Dos céus das
prisões
Que as ostentam
Como um pedaço de
sonho
Com um olhar tão
tristonho
De quem almeja
alcançar
Os céus dos
monarcas
Com a bênção de
deus
Diz-se que são
seus
Ao vê-lo brilhar
E o dos campos
Que se estende
E escorre quente
Sem nem precisar
E o dos mares
Que são seu
espelho
Sobre cada joelho
A pedir que não vá
Mas nunca vão
mesmo
P’ro céu dos
cansados
Dos desmazelados
Que nem ousam
olhar
Ali não se
ostentam,
E zangadas
enjeitam
Os céus que nem
tentam
As admirar.
Ou talvez o problema seja das
estrelas, que não podem subir e ficam sem saber seu lugar e não vão para lá
mesmo depois de mortas, porque são estrelas das cidades. Estrelas de Paris,
quem sabe. Estrelas que são enterradas, mas ficam para sempre e sempre. Mas eu
não gosto de eternos, então deixe que as estrelas sejam as primeiras a morrer.
Lembra-se? Estrelas mortas ainda brilham.
Poema esdrúxulo de frases interrogativas
Das origens, interrogações que
não quero realmente respondidas e das citações no final, só.
Humbert, donde vêm
suas canções
Dos dias vindouros
que teme
Para lhe
arrancarem orações?
Donde vem a noite
tão bela
Por sob o frio que
treme
E o faz chorar-se
por ela?
Donde vem a
poesia, Humbert?
Donde vem a
melodia, Humbert?
E se o poeta
inoportuno
Naquele sussurro
soturno
Acorda, levanta e
sai?
E se o cerne da
dor
Sempre a rimar-se
com amor
Estrangula,
apunhala e se vai?
E se o fim chegar
um dia, Humbert?
E se nada chegar
para mim, Humbert?
Ainda tenho você para ser minha porta
aberta?
Ainda tenho você para ser meu porto arenoso?
Ainda tenho você para atravessar minha ponte
nessa tempestade?
Ainda tenho você para me manter quente?
Da poesia sem título e com
maior significado, mas não carregue como para sempre, porque odeio eternos.
Ainda que os rumos
mudassem como o vento
Ainda que
Quasimodo não nos tivesse acolhido
Ainda que a noite
não rimasse com o relento
Sem ver que as
brancas velas do altar tinham acendido
Ainda que um
segundo em si durasse um só momento
E entre tantos
“ainda” um já fosse proferido
Ainda que as palavras
fossem só de sofrimento
E que a contadora
de histórias nos tivesse mentido
Ainda que de nada
nos valesse esse tormento
E que a cavalaria
cavalgasse escondido
Ainda que as
flores servissem de catavento
Ainda me teria e
eu a ti, quebrando a rima.
Uma tragédia
Das mais toscas e apressadas;
mal trabalhada, mal revisada, mal feita e sem conserto. Sem perdões, também, a
poesia não deveria existir. Esta, menos.
Que és, afinal,
senão poeta?
No primeiro ato de
uma peça
Ou acha que de
fato não me afeta?
P’ra que quando
for embora eu não impeça
E no segundo ato,
não és ninguém
Além daquela
árvore encantada
Que conta p’ro
mocinho o que advém
E fica para trás
olhando a estrada
Vira e mexe, vira
narrador
No terceiro ato da
tal peça
Floreia e rima
torto dor com amor
Sonhando não há
nada que o impeça
Quarto ato, um
poeta morto
Uma árvore caída
pelo chão
Narrador enforcado,
brinquedo torto
Uma queda aparada
pela mão
Matei-te,
narrador, e sem pesar
E tornaria, se
vivesse ainda
Mas sobre o poeta
vou chorar
No o tronco morto
da árvore linda
De rimas quebradas e poetas ao chão
Do fim, onde as rimas acabam
antes dos versos e do que mais poderia ter feito, e não fiz, por não saber
fazer e pela falta de coordenação poética. Não me perdoe por ela, não quero que
o faça, porque perdão eu não peço, não sei pedir. Então apenas veja rimas
quebrando diante dos seus olhos sem poder fazer nada por elas, eis tudo.
Poeta morto! das
ruas desertas
Das troças
espertas
Do eterno até mais
Poeta torpe! das
águas turbulentas
Das incessantes
tormentas
Da flor murcha que
cai
Das ventanias às
tempestades
E do final ao fim
Pois não conheces
as calmarias
E não começas...
Já não rimo mais.
Poeta ébrio! das
insanidades
Das nuas vaidades
Da pureza que trai
Poeta sujo! das
rimas atrozes
Dos dedos velozes
Do sangue que sai
Do negro e sujo ao
profano
E do fim ao fim
Porque não
conheces a candura
E quebro a rima
Termino aqui.