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terça-feira, 3 de julho de 2012

pequena lira dos (seus) vinte anos

O presente de aniversário de um amigo muito especial, que completou seus vinte anos nesse 2 de julho. Pensei em fazer uma coisa especial e o resultado foram cinco páginas do word quase em branco - afinal, poesia é uma página quase em branco.

Lucas (Shikim), isso é pra você.





Dos céus que não tem estrelas.

Do que foi dito, um dia desses, sobre estrelas que não vão pro céu. Um céu que não atrai estrelas deve ser bem triste também, não? Mas você pode ver um se olhar para cima, se vive em cidade grande.


E que sejam eles:
Os céus das cidades
Das insanidades
Dos vãos lampiões.

E que sejam eles:
Os céus da sarjeta
Da dor que se injeta
Dos céus das prisões

Que as ostentam
Como um pedaço de sonho
Com um olhar tão tristonho
De quem almeja alcançar

Os céus dos monarcas
Com a bênção de deus
Diz-se que são seus
Ao vê-lo brilhar

E o dos campos
Que se estende
E escorre quente
Sem nem precisar

E o dos mares
Que são seu espelho
Sobre cada joelho
A pedir que não vá

Mas nunca vão mesmo
P’ro céu dos cansados
Dos desmazelados
Que nem ousam olhar

Ali não se ostentam,
E zangadas enjeitam
Os céus que nem tentam
As admirar.


Ou talvez o problema seja das estrelas, que não podem subir e ficam sem saber seu lugar e não vão para lá mesmo depois de mortas, porque são estrelas das cidades. Estrelas de Paris, quem sabe. Estrelas que são enterradas, mas ficam para sempre e sempre. Mas eu não gosto de eternos, então deixe que as estrelas sejam as primeiras a morrer. Lembra-se? Estrelas mortas ainda brilham.





Poema esdrúxulo de frases interrogativas


Das origens, interrogações que não quero realmente respondidas e das citações no final, só.


Humbert, donde vêm suas canções
Dos dias vindouros que teme
Para lhe arrancarem orações?
Donde vem a noite tão bela
Por sob o frio que treme
E o faz chorar-se por ela?

Donde vem a poesia, Humbert?
Donde vem a melodia, Humbert?

E se o poeta inoportuno
Naquele sussurro soturno
Acorda, levanta e sai?
E se o cerne da dor
Sempre a rimar-se com amor
Estrangula, apunhala e se vai?

E se o fim chegar um dia, Humbert?
E se nada chegar para mim, Humbert?

Ainda tenho você para ser minha porta aberta?
Ainda tenho você para ser meu porto arenoso?
Ainda tenho você para atravessar minha ponte nessa tempestade?
Ainda tenho você para me manter quente?











Da poesia sem título e com maior significado, mas não carregue como para sempre, porque odeio eternos.



Ainda que os rumos mudassem como o vento
Ainda que Quasimodo não nos tivesse acolhido
Ainda que a noite não rimasse com o relento
Sem ver que as brancas velas do altar tinham acendido
Ainda que um segundo em si durasse um só momento
E entre tantos “ainda” um já fosse proferido
Ainda que as palavras fossem só de sofrimento
E que a contadora de histórias nos tivesse mentido
Ainda que de nada nos valesse esse tormento
E que a cavalaria cavalgasse escondido
Ainda que as flores servissem de catavento
Ainda me teria e eu a ti, quebrando a rima.




Uma tragédia


Das mais toscas e apressadas; mal trabalhada, mal revisada, mal feita e sem conserto. Sem perdões, também, a poesia não deveria existir. Esta, menos.

Que és, afinal, senão poeta?
No primeiro ato de uma peça
Ou acha que de fato não me afeta?
P’ra que quando for embora eu não impeça

E no segundo ato, não és ninguém
Além daquela árvore encantada
Que conta p’ro mocinho o que advém
E fica para trás olhando a estrada

Vira e mexe, vira narrador
No terceiro ato da tal peça
Floreia e rima torto dor com amor
Sonhando não há nada que o impeça

Quarto ato, um poeta morto
Uma árvore caída pelo chão
Narrador enforcado, brinquedo torto
Uma queda aparada pela mão

Matei-te, narrador, e sem pesar
E tornaria, se vivesse ainda
Mas sobre o poeta vou chorar
No o tronco morto da árvore linda






De rimas quebradas e poetas ao chão


Do fim, onde as rimas acabam antes dos versos e do que mais poderia ter feito, e não fiz, por não saber fazer e pela falta de coordenação poética. Não me perdoe por ela, não quero que o faça, porque perdão eu não peço, não sei pedir. Então apenas veja rimas quebrando diante dos seus olhos sem poder fazer nada por elas, eis tudo.


Poeta morto! das ruas desertas
Das troças espertas
Do eterno até mais

Poeta torpe! das águas turbulentas
Das incessantes tormentas
Da flor murcha que cai

Das ventanias às tempestades
E do final ao fim
Pois não conheces as calmarias
E não começas...

Já não rimo mais.

Poeta ébrio! das insanidades
Das nuas vaidades
Da pureza que trai

Poeta sujo! das rimas atrozes
Dos dedos velozes
Do sangue que sai

Do negro e sujo ao profano
E do fim ao fim
Porque não conheces a candura
E quebro a rima

Termino aqui.
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