Como
todo mundo sabe, a Decadência é um blog sério, com cronograma, agenda,
calendário, posts nos dias certos, regras de montão e uma anarquia vigente,
haha.
Pois como não gosto mesmo de ser previsível e as postagens estavam num
ritmo só, resolvi fazer uma coluna com resenha de livros. Vocês podem conferir
a resenha de Interligados, que é, intertextualizando o Vitor do InsensatoTeclado, o melhor livro ruim que eu já li.
Não, não teremos toda semana. Embora eu tenha um
grande estoque de livros para ler, de
livros sendo lidos e de opiniões sobre livros que já li, não tenho tempo para
falar toda semana sobre todos eles. Então, além dos textos literários toda
sexta (dos quais tenho um estoque miseravelmente grande, caso não possa
produzir um inédito), vamos ter ocasionalmente uma resenha porque realmente
gosto de fazer isso. Peço logo desculpas aos meninos, porque não comuniquei a
eles essa vontade de última hora.
Pois
bem, dessa vez resolvi falar sobre Jogos Vorazes, o super-ultra-mega best-seller
de Suzanne Collins. Talvez até fale alguma coisa sobre o filme também, com uma
comparação aqui, outra ali, enfim.
Jogos
vorazes foi um livro que li em seis horas. A última vez que fiquei seis horas
seguidas lendo um livro foi com Harry Potter, que é até hoje a minha saga
fantástica preferida, muito embora O
Senhor dos Anéis prime por uma qualidade maior. Mas por que estou falando isso
mesmo?
Voltando
a Jogos Vorazes, temo que muito dos fãs espalhados por aí tenham uma ideia
errada do que é o livro.
Vou explicar:
o livro de Suzanne Collins tem uma complexidade muito maior do que o simples
romance adolescente com triângulo amoroso que as pessoas estão acostumadas a
gostar, e que acaba sendo o foco de muitos fãs que só querem saber com quem
Katniss vai ficar no final.
Contexto
cultural, histórico e... que subtítulo chato, caralho.
O livro
se passa num cenário pós-apocalíptico, um país chamado Panem, que fica
localizado onde eram os Estados Unidos. Ele é dividido em 12 distritos, que
produzem matéria prima e produtos para exportar para a longínqua cidade de
Capital (ou Capitol, dependendo da tradução), onde eles vão desfrutar desses
benefícios dados pelos distritos e em troca mandar tropas para lá, garantindo
que não haverá rebelião. Enquanto isso as pessoas vão morrendo de fome e a
Capital, ou o Capitol, para os tradutores chatos, praticamente ignora esse fato
e só pensa em manter o domínio sobre os territórios mais pobres.
Pausa. Preciso comentar esse fato.
Collins
destrói o cenário atual dos Estados Unidos e constrói outro país por cima. Contudo,
se você for analisar, eles ainda estão ali. O luxo desnecessário, o
nacionalismo exacerbado, o controle sobre os mais pobres, a riqueza de um local
contrastando com a pobreza de outro... está tudo aí. Mas tudo bem, leitoras de Crepúsculo
e House of Night, vamos adiantar que mais pra frente tem romance.
Katniss
Everdeen, a personagem principal da trama, vive no Distrito 12, que é o mais
pobre de todos. Eles fornecem carvão para a Capital (Capitol, Caralho, baaah)
e, em suma, comem muito pouco. Ao redor do distrito tem uma floresta, onde as
pessoas não podem entrar, mas Katniss e seu amigo Gale vão mesmo assim, pois
precisam caçar para alimentar a família pobre.
Romance?
Quem sabe. Katniss diz que não tem nada com Gale, mas todo mundo percebe na
narração que pode rolar um clima entre eles. Sem falar que Gale é um cara
bonito, forte, másculo, que arranca suspiros das garotas... Pausa novamente.
Ok,
ele é tudo isso, mas também é um rapaz trabalhador, jovem, que sustenta sua mãe
e seus irmãos porque seu pai morreu, deixando sua mãe grávida com uma cambada
de filhos. Então ele teve que ir praticar caça, o que era proibido, para
garantir a sobrevivência. Mas, claro, ele é lindo, então que importa o resto? Nada de crepuscolizar, ok?
Então
chega a parte de falar dos Jogos. Como eu disse, o Capitol, a Capital, ou a
Casa do Car... Enfim. Eles querem manter o controle sobre os distritos, mas
apenas forças armadas não segurariam a população. Então o que eles promovem? Os
Jogos Vorazes.
TADÃÃÃN!
Moranguinho
do Nordeste, o que são os Jogos Vorazes?
Os
Jogos Vorazes são um reality show
dirigido pela Capital, onde um menino e uma menina de cada distrito, entre 12 e
18 anos, são sorteados para lutarem em uma arena até a morte. O que sobreviver,
será o vencedor e então ganhará muito dinheiro e fama. Mas por que isso? Para mostrar
às pessoas que a Capital tem o poder sobre eles, que pode tomar todo ano duas
crianças de cada família e fazer com que elas tenham mortes lentas e
dolorosas... E então deixam um vencedor para mostrar que eles são
misericordiosos e perdoam. Mais ainda, recompensam.
Capitalismo
puro.
Ah,
tem um detalhe também. Se você coloca seu nome algumas vezes mais para o
sorteio, ganha suprimentos de grãos e óleo. Katniss tinha seu nome lá 20 vezes
e o lindo do Gale tinha 42 (número que por sinal é a resposta à questão
fundamental da Vida, o Universo e Tudo Mais, como o Vitor – aquele Vitor lá que
citei no começo do texto – fez o favor de me lembrar). Tem todo um sistema
envolvido nisso, mas não vou explicar aqui. Se quiserem, leiam o livro.
Então
vão todos para a praça ver o sorteio e saber quem vai ser o defunto
Tributo da vez. E quem é selecionada? A pequena Primrose Everdeen, irmã mais
nova de Katniss. É uma tristeza essa cena, tanto no filme quanto no livro. Ouso
dizer até que a cena do filme é mais emocionante, quase me fez chorar nas três
vezes que assisti, e olha que sou feita de pedra.
Katniss,
então, se oferece para ir no lugar da irmã. Lógico. E adivinha quem é o garoto
que é sorteado para ir com ela? Gale!
Eles
se despedem da família e dos amigos, tudo muito lindo, e vão atrás da taça de quadribol! Não, pera... vão para um trem de
luxo onde eles encontram uma coisa que quase nunca tinham visto na vida...
comida boa!
Estão
lá indo para a Capital, o Capitol, a Capitania de Pernambuco ou o que for, com
Effie Trinket (uma perua extravagante da Capital que usa uma peruca cor-de-rosa
e tem um sotaque enjoado) e Haymitch Abernathy, um bêbado barrigudo que
já tinha vencido os jogos uma vez e por isso era o tutor deles.
Gosto
muito do Haymitch, ele é irreverente, folgado e tem uma visão de mundo muito
melhor do que a de muita gente. Por isso que é bêbado, acho que quando você
compreende o mundo, a cachaça é a única saída.
Ele explica
para os tributos que eles tem que conquistar o publico, fazer com que acreditem
que eles tem chance de ganhar, só assim ganhariam patrocinadores. Os patrocinadores
eram geralmente pessoas muito, muito, muito podres de ricas da Capital que
mandavam alguma coisinha para o tributo que estava na arena. Isso podia ser uma
caixa de fósforo, uma garrafinha de água, um remédio... e então isso caía de
para-quedas para o tributo e poderia até salvar a vida dele.
Pausa.
Genial,
não? Essa autora é demais! Veio para mostrar como as aparências, a mídia, tudo
é uma questão de autopromoção numa sociedade capitalista onde tudo é fama e
dinheiro. Eu faria uma análise mais detalhada seguindo por esse ponto, mas
provavelmente ficaria tão chato que nem minha professora de sociologia teria
saco para ler.
Então
eles chegam à Capital, ou Capital, vulgo Coréia do Sul, onde a tecnologia de
ponta é uma loucura e as pessoas usam roupas e cabelos coloridos e brilhantes. Outro
mundo, com certeza. Katniss toma seu primeiro banho de chuveiro e conhece a
sensação de ter energia elétrica o tempo todo (no distrito eles só tinham
eletricidade duas horas por dia).
Os drag
queens figurinistas (sim, os tributos tinham figurinistas) eram criaturas
bizarras, mas Cinna, drag figurinista de Katniss, não é tão fatality,
embora no filme a figurinista de Peeta parecesse uma nega maluca. Logo eles
ficam amigos e ele ganha a confiança dela.
Tá,
então eles aparecem para o público, a roupa deles arrasa e eu não vou estragar
a surpresa da roupa porque é muito massa, vocês tem que ver e... Mentira, vou falar:
Eles
ficavam com o rabo pegando fogo. Uhul!
Isso
é bom porque, como vocês sabem, o que importa são as aparências. Aparência é
tudo em Jogos Vorazes e define o limiar de vida e de morte. Na vida real
também, mas ninguém percebe porque a ideia é fazer tudo parecer natural.
Olha
eu falando de capitalismo de novo.
Enfim,
Katniss arrasa e não para por aí! Chama a atenção dos idealizadores de uma
forma muito peculiar que eu não vou contar aqui. Ah, vocês sabem que vou sim:
ela atira uma flecha na comida dos manés, há! Isso garante a ela uma excelente
nota, a maior nota de todas, por sua atitude.
Peeta
também vai bem, caso alguém queira saber. E se vocês pensam que ele está de
coadjuvante na história, tirem seus cavalos da chuva, porque ele numa
entrevista de repente se declara a Katniss! É muito bonitinho, ele diz que
sempre amou uma garota mas ela, como nós, leitores, não notamos ele até os
Jogos.
E o entrevistador fala:
– Então você ganha e volta e ela vai ter que ficar com você.
E ele diz:
– Não posso, ela veio para cá comigo.
Ok,
não foram essas palavras, mas foi esse o estilo. Captaram o espírito da coisa?
Então
Haymitch, que como eu disse tem uma visão panorâmica do mundo, resolve promover
essa história de casal desafortunado para que eles caiam nas graças do público
e consigam patrocinadores.
Pausa.
Só parei
pra declarar meu amor ao Haymitch. Te amo, Haymitch!
Bom,
esse foi basicamente o treinamento e a promoção deles. Tudo isso, dias de
preparação para a Arena. Emocionante e belo, e é por aqui que vou parar. Logo
faço a continuação até o final da história, mas agora minha bunda está doendo
de tanto ficar sentada nessa cadeira, que por sinal é inapropriada para alguém
ficar sentado muito tempo e está acabando com a minha coluna.
Acho
também que já dei spoilers suficientes, então acho que chega deles, não é? Ou seja,
se ainda não leu ou não assistiu, fique longe da continuação dessa resenha
(sim, eu sou uma escritora que pede para não lerem minhas coisas) e, como diria
o meu querido Haymitch:
–
Fiquem vivos.
Érica Prado tem 16 anos, pretende cursar história, ouve metal e reclamações o tempo todo. Gosta de coisas fáceis tipo miojo e, portanto, não gosta da vida. Não, você não pode simplesmente gostar dos dois. |