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sábado, 10 de novembro de 2012

O Bambolear das Rosas Brancas



Para alguém que eu não conheço, mas me faz escrever.

Não a dou coragem porque eu mesmo não a tenho entre meus dedos, pequena Rosa. Mas se soubesse como carregá-la, ah, então ela seria sua. Não preciso de nobres sentimentos, os melancólicos me caem bem, como uma luva de pelica nas mãos de um criminoso, não sei se me conhece, mas só fiz esse porque deu vontade – e eu não contrario as vontades, por isso saco dos meus jeans mais um cigarro.

Então me ouça, Rosa, mas não precisa prestar atenção, longe disso. Somente ouça como se me conhecesse um pouquinho, mesmo eu sendo um mero desconhecido em um amontoado de nomes. Eu verdadeiramente não tenho nada para dizer, todos sabem disso. Oh, só queria dizer que a admiro de longe, que idealizo-a em minha mente alucinada e faço-a mais frágil que Carrie, mais solitária que Juliete e mais inconstante do que Anne. Não dói contar verdades, Rosa, então deixa-me contar somente uma para você: faz-me sorrir.

E sei que talvez sua alma esteja repleta de mágoas, mas não importo-me (não no sentido ruim, longe disso!). Importa-me somente te fazer sorrir, como se compusesse uma canção de duas notas, tão serena quanto à alma que arrumei para você em minha mente. E foste criada com nome de flor não por acaso, sei que gosta de rosas brancas, embora não saiba o motivo, na minha mente elas combinam com você. Então nesse curto e mal rascunhado desejo não reprimido resolvi nomeá-la Rosa. Como sua pele é pálida (insira aqui um talvez) secretamente chamo-a de Rosa Branca. Mas não lhe arrancarei os espinhos, você ainda fere, mesmo eu sabendo que não é proposital. São chagas demais para não ocasionar ao mundo algumas feridas. “Tudo que não te mata vai deixar uma marca”, ouvi em uma estrofe e resolvi guardar, estranhamente ela cabe aqui.

Sua porcelana parece-me intacta, mas isso não quer dizer que saiba fingir. Acho que é só uma força que desconhece, de qualquer modo. E eu verdadeiramente não sei nada de você, não crie divagações em sua mente. Oh, perdoe-me por fumar, nem se incomoda-se com a fumaça, já apago esse, não precisa tossir. Desculpe pela falta de tato, estou acostumado com os meus e não sei agradar visitas. Se quiser pode sentar-se, Carrie trouxe umas almofadas novas, Charlote em breve estará aqui também. Mas se não quiser ficar aqui pode ir para o jardim, só peço-a que se for usar o balanço não deixe Carrie saber, ela está lá em cima, treinando exaustivamente, talvez surpreenda-se com você aqui. Ou não, ela sabe que admiro-a por tudo e nada. Não sei explicar, só sei que quero toda hora repetir essa palavra para seus ouvidos que nunca ouviram minha voz: admiro.

Aqui também temos caixinhas de música (sem as bailarinas, Carrie as levou, eu deixei), elas ainda funcionam, mas nenhuma delas toca Für Elise, só uma, mas Theo prometeu-a a Carrie. E sim, eu falo muito de Carrie, é que eu não consigo desgrudar-me dela um segundo. Coisa de irmão-mais-velho-e-boboca. Entenda. Daqui a pouco Juliete ligará, se sabe falar algo em francês pode atender ao telefone, não me importo. Não se sinta acanhada, ande, pode fuçar na memória da casa, tirar alguns livros das estantes, levar algum para casa, se quiser. Recomendo as poesias da segunda geração do romantismo, mas nem sei se combina contigo, Rosa.

Acomode-se no sofá, sei que ele é um bocado antigo, mas é até confortável deitar-se nele. Eve prometeu-me um novo, mas não quero que ela gaste dinheiro comigo, de qualquer maneira. Oh, quem é Eve? Minha vizinha do lado, de vestidos compridos e espírito solar.

Não falei de Johnny propositalmente. Embora cada pó dessa casa carregue um pedaço dele quero esquecê-lo. Não que ele seja um erro, tampouco é um acerto. Ele não é uma memorabília, mas enfeita-se como tal. E não acho digno mesmo lembrar-se dele em cada acorde de um rock clássico ou um riso inocente! É cruel, Rosa! Porque ele se foi e me deixou aqui, na poeira, eternamente renegado a viver com um fantasma que carrega o nome dele. E pode dizer que eu tenho outros, mas ele foi o primeiro – e hoje nem é tão importante assim. Hoje nada é tão importante assim, somente essa vontade de (a)prender ainda mais esse admirar.

Não sei o que admiro, só sei que gosto. E quando gosto tenho a mania de tornar-me obsessivo, tal qual estou agora. E poderia ficar aqui falando como pintei-a em minha mente ébria: muita brancura e suavidade, muito clamor por querer viver além da vida. Muito bambolear – desses de criança mesmo, bem irregulares, com os pés fincados ao chão e a cintura remexendo-se em sucesso algum. O que falta de ritmo em você sobra em poesia, rimas e palavras perdidas. E sim, todas as palavras para mim são perdidas até que encontrem em alguém sua morada ideal. Qual palavra mora em você? Gostaria de saber.

Ainda é dia? As cortinas fechadas não me deixam ver nada, desculpe a pergunta. Eu gosto do sol quando não é quente, e você? E deixe-me imaginá-la esticada em um jardim qualquer enquanto o sol ilumina seu rosto protegido por óculos em forma de coração. Heart-Shaped Glasses e você já quebrou algum? Não óculos, mas corações.  Músculo involuntário que bombeia sangue para o corpo, certo? Não gosto desses termos técnicos, prefiro máquina de amor, simples e duro tal qual o sentimento que ele carrega.

Acho que aqui acaba esse pequeno devaneio, Rosa. Essa abstração você nem saberá que é sua, mas saiba que fiz só por querer. Minha vida é minha lama e nela eu ainda vivo, como se não precisasse de mais nada para ser feliz. Dê-me algumas sarjetas e a sujeira que ninguém quer ver que faço dela minha felicidade. Oh, você está ai? Pode ir, se quiser, a solidão me acompanha. Carrie ainda volta. Juliete também. Os outros ainda aparecem, sei que sim. Menos Johnny.  Você está mesmo ai? Acho que não.

Talvez um dia eu aprenda como colocar coragem em uma caixinha e quero que saiba de uma coisa: dar-te-ia somente para você.

Lucas Rodrigues Nascido no inverno de 92, cursa Letras, mas pretende cursar em breve História da Arte. Ama metal como ama artes plásticas, cinema, preto&branco, livros manifestações culturais populares e musicas regionais. Escuta um pouco de tudo - assim como escreve. Só não sabe se descrever.

Comentários
1 Comentários

Um comentário:

Rai disse...

Perfeeeeeeeeeeeeeeeeeeito demais <3
Lembro quando esse texto era apenas algumas linhas no nosso histórico do msn. *-*

"Minha vida é minha lama e nela eu ainda vivo, como se não precisasse de mais nada para ser feliz. "
Pfvr né, lindo lindo lindo <3