Eu poderia viver milhares de
anos. Eu poderia morrer em meio a todos esses cigarros. Eu poderia mentir para
mim e pra você, apenas. As coisas estão acontecendo e eu digo que posso ver com
meus olhos de latifundiária. Mas as coisas estão acontecendo, as palavras estão
se perdendo no que já foi e nada aconteceu ainda. Nada acontece quando eu não
aconteço.
Eu poderia jogar as palavras no
ventilador ou aprisioná-las. Eu poderia repeti-las, repeti-las, repeti-las,
repeti-las...
Repeti-las...
Repeti-las...
Repeti-las...
Repeti-las...
Repeti-las...
Eu poderia... amá-las, odiá-las,
eu poderia não poder mais. Eu poderia transformar as palavras em palavras por
um momento e depois deixar elas deixarem... Elas deixariam, eles não seriam,
não poderiam...
Então eu poderia fazer sentido ou
quebrar algemas, eu poderia voar porque não tenho pés, e cair como uma
cachoeira, como uma chuva, como um acorde desafinado. Eu poderia me calar, ah,
parar de me repetir! Eu queria saber pra onde ir, pra poder guiar as palavras. Eu
poderia te trocar por outro.
Eu poderia viver, só viver, e os
anos seriam milhares.
Eu poderia viver milhares de
anos.
Eu poderia viver 16 anos.
Eu poderia existir. Deus poderia
existir. Eu poderia insistir. Ou parar, parar, parar, parar, parar, parar de me
repetir.