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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

sobre repetições




Eu poderia viver milhares de anos. Eu poderia morrer em meio a todos esses cigarros. Eu poderia mentir para mim e pra você, apenas. As coisas estão acontecendo e eu digo que posso ver com meus olhos de latifundiária. Mas as coisas estão acontecendo, as palavras estão se perdendo no que já foi e nada aconteceu ainda. Nada acontece quando eu não aconteço.
Eu poderia jogar as palavras no ventilador ou aprisioná-las. Eu poderia repeti-las, repeti-las, repeti-las, repeti-las...
Repeti-las...
Repeti-las...
Repeti-las...
Repeti-las...
Repeti-las...
Eu poderia... amá-las, odiá-las, eu poderia não poder mais. Eu poderia transformar as palavras em palavras por um momento e depois deixar elas deixarem... Elas deixariam, eles não seriam, não poderiam...
Então eu poderia fazer sentido ou quebrar algemas, eu poderia voar porque não tenho pés, e cair como uma cachoeira, como uma chuva, como um acorde desafinado. Eu poderia me calar, ah, parar de me repetir! Eu queria saber pra onde ir, pra poder guiar as palavras. Eu poderia te trocar por outro.
Eu poderia viver, só viver, e os anos seriam milhares.
Eu poderia viver milhares de anos.
Eu poderia viver 16 anos.
Eu poderia existir. Deus poderia existir. Eu poderia insistir. Ou parar, parar, parar, parar, parar, parar de me repetir.
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