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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Lugar Algum


 Estamos sujos; e sabemos que estamos. Nossas mentes flutuam em um espaço desconhecido. E quando fechamos os olhos lá estamos nos observando no espelho da vergonha. Vendo cada passo que damos com medo de nos olhar nos olhos. Não me encaro mais. Meu reflexo abaixa a cabeça ao ver-me passar. Eu retribuo.

 Estamos enlameados e ensanguentados. Estamos fedidos e perdidos. Caminhamos em vão chegando a lugar algum. Exceto lá, no final de toda noite: a casa dos embaraçados.

 No escuro do meu sonho eu vejo aquilo que me enoja e que me dá um prazer imenso. Ele me beija e me corrói, e eu sofro e lhe beijo de volta. Enlouquecida estou e sou. Mas lá descanso, nos seus braços gelados e sem amor. Na semivida que sustentamos. Beijamo-nos e nos odiamos.

 Estamos quebrados, dois corações partidos e duas mentes sãs. A sanidade nos condena e a loucura nos aflige, mas nada mais nos atinge. E por que nada mais nos atinge? Peço; olhando os céus; que me atinja um meteoro, que me acerte com um raio. Deixa a luz me penetrar nem que me mate. Mas me tire do escuro; expulse-me da podridão.

 Meus desejos se misturam, e quando durmo e vos encontro novamente, lá está. Doente, doente, doente. Repetitivamente doente todos os dias doente sempre doente sem faltas, sem despedidas, nos beijamos e estamos doentes. E carentes. Eu suporto a tua vinda e você me diz...

 Que nós estamos fracos, lhe digo que somos, somos fracos. Me diz que queremos ser fortes e eu nego, recuso a grandeza. Espero que você me beije novamente e me sugue daquilo que chamamos de... Perco as palavras... Porque você me beija e eu esqueço de tudo. O mundo já não importa mais, mas aí eu acordo.

 E é no momento do acordar que a tristeza me bate; a vontade de sair da cama não vem. Pergunto-me o que faz você nunca estar lá. E te digo que precisa ficar. Precisa sair do meu sonho e vir pra minha cama, e fazer do meu mundo, da minha vida, aquele deserto. Aquela casa dos espelhos, aquela vergonha. Que talvez tudo que eu queira é ser ruim. Que tudo que desejo é ser a melhor em ser a pior. E ver-te querendo-me assim.

 Caio no sono novamente, porque enrolei demais em meus pensamentos e nos lençóis. A sujeira novamente me invade e sua voz me sussurra ardendo:


“Contente-se, donna.” 


(Donna = palavra do italiano referente à "mulher")
Sobre o Autor:
Rhaissa Ramon Sempre tive interesse por escrita e, principalmente, por leitura. Grande fã do escritor peruano Mario Llosa, apaixonada por outros tantos escritores sem papas na língua[...]
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