Não tenho muita certeza de como me sentir sobre isso
Mas há algo no seu jeito de se mexer,
que faz com que eu acredite não ser possível viver sem você.
Mas há algo no seu jeito de se mexer,
que faz com que eu acredite não ser possível viver sem você.
(Rihanna)
Era uma vez, um certo-rapaz.
Digo certo porque é o que ele era;
comportado e digno para os padrões da sociedade (pelo menos da sua sociedade). Tão
digno que não vivia para si, vivia para outros: apenas existia.
Era uma vez um café esfriando, Adele tocando,
um brilho nos olhos, um vazio no peito e certa menina, daquelas que mantém um
papel de parede de flores, o cabelo penteado e o quarto arrumado, ao contrário
do coração.
Em um dia tão certo quanto o rapaz, tornou-se conhecida outra
pessoa: uma menina. Mas ele tinha coração fraco, ou um fraco por coração. E quando
a conheceu não sabia mais não ser. Só queria ser. Ser para ela, ser por ela,
ser dela.
Quanto à menina, ela tinha mudado, seu cabelo
arrumado também tinha um novo corte. Não mais franja, não tão longos e nem tão
suaves, não mais. É que o término de um namoro pode ser tão poderoso quanto o
começo de um. Antes, o entrelaçar dos dedos, os chocolates e tudo o que ela
precisava era dele, o seu ar. Agora, mais uma esperança perdida, uma promessa
não cumprida, o “pra sempre” por alguns dias, e de repente, ela só precisava de
paz. Céu. Ar...
Para ele, o problema era o não ser. Ou melhor, o não foi. O
que foi foram as esperanças, o que ficou foram os cacos – de vidro e de coração
–, o quarto trancado, o espírito dilacerado e a alma em depressão.
Para ela, o problema era estar sozinha em meio
à "multidão". Sozinha na frente do seu computador, os cento e trinta
contatos online não eram suficiente. Não que quem ela quisesse estava
offline, ainda pior: não tinha ninguém que ela queria que estivesse lá. Ela
tinha amigos, claro! Na verdade era até popular, mas quem parece importante
para todo mundo, pode, na verdade, não ser importante de verdade para ninguém.
Logo ela, que nunca tinha se sentido só. Logo ela, que nunca tinha deixado um
café esfriar...
E foi nesse ponto que ele e ela se conheceram. Quando ambos
estavam precisados de amor e precisados de amar. E amaram-se. Amaram-se como
fazem os bons amigos. Amaram-se como fazem os melhores amigos.
Mas és que nenhum amor vem sem preço (ou sem erro), então
lógico que um dos dois haveria de errar. Um telefonema foi o suficiente para
trazer de volta o caos, a tristeza e a solidão. Ignorando os conselhos da
amiga, ele atendeu a ligação. E assim foram-se trinta. Trinta dias de sol para
ele e trinta dias de chuva para ela. O importante é que foram trinta os dias
tomados pela vã esperança de um coração apaixonado.
A ela disseram que tomasse cuidado quando se
tratava de amor, mas ignorou, achando que nem amor era. Quando percebeu já era
tarde, ele já havia se afastado. E que me perdoe Camões, mas o espaço deixado
por ele era uma ferida, uma ferida que ela sentia doer. E ainda assim, era
amor.
Ele
tinha ido, e ela tentado fingir que não sabia de nada. Não saber significava
não sentir, e isso lhe parecia uma boa escapatória, entretanto ela não podia
simplesmente não saber. Na verdade, poder até podia, mas não é como se
conseguisse. Aqueles trinta dias de chuva tinham trazido um “resfriado”. Um
resfriado sem prazo. No fim, não poderia haver sensação mais incômoda que estar
resfriada, porque, não era nada que ela pudesse gritar por ajuda aos sete
mundos, ela sequer tinha “direito a um médico”, mas ainda assim, seus sintomas
estavam lá, lembrando-a a todo o momento de que ela nem mesmo estava doente,
mas também de que não havia nela saúde suficiente para se sentir brilhante,
como uma pedra preciosa, como um diamante, ou um rubi, ou como uma esmeralda,
que no fundo, ela era.
E ele se descobriu infeliz ao
lado daquela mulher que fizera parte da sua vida um dia e que – também um dia –
tinha amado. Tinha, mas não ama mais. Ao lado dela o dia amanhecia sem
amanhecer e a noite vinha sempre fria, mesmo se houvesse alguém para esquentar
a cama. E, nesses trinta dias ensolarados, ele se pegou pensando. Pensando se
voltar a ela valia a pena mesmo. Pensando se era certo estar com alguém que já
não amava. Pensando que havia descoberto o verdadeiro significado da palavra
“amar”, e pensando que não era quem lhe esquentava a cama que amava; era quem
lhe esquentava o café, o chá e, principalmente, o coração. Sendo assim, após
trinta dias-de-pensar, ele decidiu voltar.
Com apenas um pedido de desculpas, ela
permitiu-se a cura, e também as bilhões de músicas sobre o amor.
Com apenas um perdão – o mais importante deles – ele
descobriu o que é ter o que se deseja mais do que tudo no mundo.
E se ela amasse a si própria, tal como amava
ele, era provável que não tivesse o aceitado de volta, mas ela o amava...
E ele a amava de volta.
E
às vezes você perdoa uma pessoa porque a falta que ela faz na sua vida é maior
do que o erro que ela cometeu.
- Por Ariel Moreira e Lisandra São Bernardo.