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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Lições



Não tenho muita certeza de como me sentir sobre isso
Mas há algo no seu jeito de se mexer,
que faz com que eu acredite não ser possível viver sem você.
(Rihanna)

Era uma vez, um certo-rapaz. Digo certo porque é o que ele era; comportado e digno para os padrões da sociedade (pelo menos da sua sociedade). Tão digno que não vivia para si, vivia para outros: apenas existia.

Era uma vez um café esfriando, Adele tocando, um brilho nos olhos, um vazio no peito e certa menina, daquelas que mantém um papel de parede de flores, o cabelo penteado e o quarto arrumado, ao contrário do coração.

Em um dia tão certo quanto o rapaz, tornou-se conhecida outra pessoa: uma menina. Mas ele tinha coração fraco, ou um fraco por coração. E quando a conheceu não sabia mais não ser. Só queria ser. Ser para ela, ser por ela, ser dela.

Quanto à menina, ela tinha mudado, seu cabelo arrumado também tinha um novo corte. Não mais franja, não tão longos e nem tão suaves, não mais. É que o término de um namoro pode ser tão poderoso quanto o começo de um. Antes, o entrelaçar dos dedos, os chocolates e tudo o que ela precisava era dele, o seu ar. Agora, mais uma esperança perdida, uma promessa não cumprida, o “pra sempre” por alguns dias, e de repente, ela só precisava de paz. Céu. Ar...

Para ele, o problema era o não ser. Ou melhor, o não foi. O que foi foram as esperanças, o que ficou foram os cacos – de vidro e de coração –, o quarto trancado, o espírito dilacerado e a alma em depressão.

Para ela, o problema era estar sozinha em meio à "multidão". Sozinha na frente do seu computador, os cento e trinta contatos online não eram suficiente. Não que quem ela quisesse estava offline, ainda pior: não tinha ninguém que ela queria que estivesse lá. Ela tinha amigos, claro! Na verdade era até popular, mas quem parece importante para todo mundo, pode, na verdade, não ser importante de verdade para ninguém. Logo ela, que nunca tinha se sentido só. Logo ela, que nunca tinha deixado um café esfriar...

E foi nesse ponto que ele e ela se conheceram. Quando ambos estavam precisados de amor e precisados de amar. E amaram-se. Amaram-se como fazem os bons amigos. Amaram-se como fazem os melhores amigos.

Mas és que nenhum amor vem sem preço (ou sem erro), então lógico que um dos dois haveria de errar. Um telefonema foi o suficiente para trazer de volta o caos, a tristeza e a solidão. Ignorando os conselhos da amiga, ele atendeu a ligação. E assim foram-se trinta. Trinta dias de sol para ele e trinta dias de chuva para ela. O importante é que foram trinta os dias tomados pela vã esperança de um coração apaixonado.

A ela disseram que tomasse cuidado quando se tratava de amor, mas ignorou, achando que nem amor era. Quando percebeu já era tarde, ele já havia se afastado. E que me perdoe Camões, mas o espaço deixado por ele era uma ferida, uma ferida que ela sentia doer. E ainda assim, era amor.

Ele tinha ido, e ela tentado fingir que não sabia de nada. Não saber significava não sentir, e isso lhe parecia uma boa escapatória, entretanto ela não podia simplesmente não saber. Na verdade, poder até podia, mas não é como se conseguisse. Aqueles trinta dias de chuva tinham trazido um “resfriado”. Um resfriado sem prazo. No fim, não poderia haver sensação mais incômoda que estar resfriada, porque, não era nada que ela pudesse gritar por ajuda aos sete mundos, ela sequer tinha “direito a um médico”, mas ainda assim, seus sintomas estavam lá, lembrando-a a todo o momento de que ela nem mesmo estava doente, mas também de que não havia nela saúde suficiente para se sentir brilhante, como uma pedra preciosa, como um diamante, ou um rubi, ou como uma esmeralda, que no fundo, ela era.

E ele se descobriu infeliz ao lado daquela mulher que fizera parte da sua vida um dia e que – também um dia – tinha amado. Tinha, mas não ama mais. Ao lado dela o dia amanhecia sem amanhecer e a noite vinha sempre fria, mesmo se houvesse alguém para esquentar a cama. E, nesses trinta dias ensolarados, ele se pegou pensando. Pensando se voltar a ela valia a pena mesmo. Pensando se era certo estar com alguém que já não amava. Pensando que havia descoberto o verdadeiro significado da palavra “amar”, e pensando que não era quem lhe esquentava a cama que amava; era quem lhe esquentava o café, o chá e, principalmente, o coração. Sendo assim, após trinta dias-de-pensar, ele decidiu voltar.

Com apenas um pedido de desculpas, ela permitiu-se a cura, e também as bilhões de músicas sobre o amor.

Com apenas um perdão – o mais importante deles – ele descobriu o que é ter o que se deseja mais do que tudo no mundo.

E se ela amasse a si própria, tal como amava ele, era provável que não tivesse o aceitado de volta, mas ela o amava...

E ele a amava de volta.

E às vezes você perdoa uma pessoa porque a falta que ela faz na sua vida é maior do que o erro que ela cometeu.

- Por Ariel Moreira e Lisandra São Bernardo.
Comentários
4 Comentários

4 comentários:

cath´s m. disse...

Texto lindo.

Samuel Martins disse...

''Para ele, o problema era o não ser. Ou melhor, o não foi. O que foi foram as esperanças, o que ficou foram os cacos – de vidro e de coração –, o quarto trancado, o espírito dilacerado e a alma em depressão.''

Melhor parte, na minha opinião!
E que texto magnífico!

Unknown disse...

Que lindo, de verdade *-*
Aposto que muitos se identificaram com a obra, como eu (em algumas partes, rs)

M. Deméter disse...

já pode chorar? que coisa mais lindamente linda. *-*