E lá vens cheia de vontades. E
oras, são daquelas esmagadoras. Não vontades de ser feliz, porque de clichês
deixes que as novelas cuidam bem. Tens vontades de coisas simples! Vontades de
leite derramado, cachoeiras ao banho gelado e céus alaranjados farfalhando lhe
as bochechas. Tens vontade de viver! E lá se vais beirando ao clichê... Ó, tens
vontade de escrever. Sem que pares. Sem que tenhas motivo. Queres escrever
coisas descentes, indecentes, sem sentido. Tens vontade de gastar grafite até
que papelarias digam chega! Tens vontade de rasgar papéis até que as escritas
insuficientes prestem. Tens vontade de declarar-se a si mesma. Tens vontade de
começar a buscar por si. Onde estás, querida amiga? Há por aí alguma vontade de
estrangulares o amigo que aqui te denuncia? Onde estás, borbulhante confusão de
sentimentos? Caminhas ao encontro de tudo sem saberes de nada? Onde estás tua
sanidade? E tua insanidade, onde estarás? Onde estão teus sentimentos, teus
escrúpulos? Cadê tuas qualidades, teus defeitos? Cadê tuas verdadeiras
vontades, aquelas que tu quiseras a pouco alistar toda compenetrada? Cadê?
Cadê?
Cadê?
Não sabes. Mal queres saber. Tens preguiça de se encontrar,
grande confusão? Mais que tanta confusão pra pouca pessoa em si! Quanta
implosão, quanta soma expressa em diminuição! Passarinho assobiou que a
senhorita esbarraras com a paixão dia desses. Tentaste ignorar, mas transparente
e perdida que estás, foste fácil tal paixão dominá-la. E agora, além de tão
perdida em si, tão confusa em confusões, ainda tens que se dividir no ato de
amar? Que amor! Amor és coisa para gente que já se ama. Anistie-me. Paixões. É
essa tal doença que já se impregnou na coitadinha. Paixão sim, essa és doença de gente confusa. Mas não és para gente confusa. Ou és? Ademais,
agora instalada não sais tão cedo. Restas sentirmos pena da grandinha confusão,
que só cresces diminuindo dentro de si. Ó, tadinha. Acabas de perceber que mais
um lote de grafite acabara e nem sequer começaras a nomear tuas vontades.
Certamente uma vontade ela tens. Talvez ela não queiras ter, mas que tens, tens.
E cadê a vontade de admiti-la? Admitas ou não, sabes bem a vontade que tem. E a
vontade dela, outrora denunciaras, chama-se você.