A neve não vem do nada
Dizem que na vida real não
existem mocinhos ou vilões. Acredito que quem disse isso pela primeira vez
ficou realmente impressionado com a contagem de merdas que já tinha feito na
vida. Mas o ponto é que, no fundo, compreendo a essência disso. Não que eu me impressione com as minhas falhas, mas sem dúvidas elas vieram dos erros que algumas pessoas cometeram
em relação a mim antes. Eles vacilaram comigo, me abandonaram e agora me subestimam.
Não que os erros deles anulem os meus, mas de certo modo, gosto de pensar que
os torna legítimos.
E mesmo
que destrua tudo,
Sempre gostei do frio, se
contrapõe à minha alma, sempre tão quente quanto ela pode ser e ainda me faz
sentir mais limpa. Mas não gostava de neve, meus pais não me deixavam sair na
neve e eu detestava ficar presa em casa. Detestava a neve até os 13 anos,
quando assisti um documentário na televisão com cenas de avalanches. Fiquei
fascinada, claro.
Dois anos mais tarde quase todos os dias costumava dizer que
a vida havia me atingido como uma avalanche. O problema é que esses dois anos mais
tarde foram a dois anos atrás. Com 15 anos ainda devia ser uma garotinha, com
seus dramas e seus mimos, uma princesa. Mas muitas coisas acontecem em dois
míseros anos. E "princesas" mimadas não cuidam de corpos mortos. Eu me tornei a Avalanche.
Não se
pode parar uma avalanche.
*Continua ....
(Continua?)