Não chame de texto minhas vãs palavras
que raiaram com o findar do dia;
Não chame de talento minha heresia,
não chamais de encanto o que não tem melodia.
Veja!, nada dizem,
nada tem, nada sabem fazer.
Nada clamam, a nada defendem,
pouco rimam e não sabem morrer.
Trazem a beleza e a beleza nada traz.
Permitam-me a aspereza,
o grasnar “nunca mais”.
Não chamais de texto
o que não diz nada;
Não espere pela amada
que ao espreitar da sacada
joga a rosa e se vai.
Não espere no chão
ao bater do encontrão
pelo livro que cai.
Ei-las belas!, ei-las minhas!
Desnudas ervas daninhas
da mente de falso poeta.
Ei-las como o vento,
ao vir e se esvair
sem saírem a contento.
Ei-las apenas,
inconstantes como penas
a soltar da ave-mãe.
Pois olhe-as,
mas não ouça-as
nada sabem dizer.
Tão delas, tão belas,
como o pertencer.
São alma, são vida,
são o não-ser.
São o olhar de corvo de Lenore,
são a inspiração a morrer.
E se vão, que não voltem jamais!
pois que fiquem com o bem que me traz...
Que nada digam, nada precisam dizer,
e que rimem o que se tiver de haver.
Que se errem no que se tiver de errar.
Que se atirem – mas só no meu mar.
Me acalmem, me arranquem do mundo,
me mergulhem no seu torpor profundo.
Pra quem olhe, fui eu quem as fiz:
– As palavras do que nada diz.