Hoje é dia, segundo a minha agenda que nunca sigo, de estudar para biologia. Então é claro que resolvi continuar a resenha sobre Jogos Vorazes que, como eu disse, é o super-ultra-mega-best-seller de Suzanne Collins.
Muita gente deve achar os jogos
algo utópico e exagerado. Alguém, e não me lembro quem foi, me disse: Que tipo de população aclamaria jogos onde
pessoas tem que lutar até a morte? Ninguém vê uma coisa dessas.
Será que não?
Será que não?
Por que não vamos a Roma, então?
Eles também tinham uma arena, o coliseu, e também tinham tributos, os
gladiadores. E eles tinham que lutar até a morte, com direito até a animais
entrando em cena por vezes pra apimentar as coisas. E dependia da aprovação do
público deixar o gladiador vivo. O Imperador, claramente, atendia esse capricho
da população, deixando vivo seu favorito ou mandando matar aqueles que queriam
ver mortos. Tudo era entretenimento para manter as pessoas ocupadas e impedir
que pensem além de reality shows,
impedir que pensem em romper com o governo, impedir que pensem em... bom,
impedir que pensem, de fato.
E qualquer semelhança com Jogos
Vorazes não é mera coincidência.
A arena de Jogos Vorazes é muito
mais futurista que o coliseu, é claro, mas ambos são reality shows, não são? Nos Jogos, os tributos são monitorados por
câmeras e então todo o país pode assistir por TV eles sendo mortos das maneiras
mais sádicas possíveis.
Como em Roma, eles devem lutar
uns contra os outros. Como em Roma, nada é facilitado para ninguém e o governo
faz de tudo para as mortes serem bem criativas e interessantes. Como em Roma, tudo
depende da aprovação popular e tudo acontece da maneira que a população
desejar. E, como em Roma, aquilo era tudo entretenimento como demonstração de poder.
Mas por que, afinal, Roma? Por
que não nossa sociedade atual?
Porque nossa sociedade atual é,
como Panem, uma versão mais moderna de Roma.
Então você pode pensar: mas nós não assistiríamos pessoas matando
umas as outras só para nos divertir.
Não mesmo? Então vamos deixar o
coliseu de lado e entrar na realidade atual. Entre o passado e o futuro, temos
o Big Brother.
Procurei no Google e achei um monte de logo do BBB. Não sei qual é o atual, então peguei o mais bonitinho rsrs. |
Sei que não é esse programa o
único que define a dominação do estado através da mídia, mas é o que está mais
próximo de nós.
E sim, no BBB as pessoas matam
umas as outras. Não fisicamente, mas psicologicamente. Quando uma pessoa
elimina a outra, ou faz com que o público elimine, ela está fazendo com que a
pessoa seja esquecida, ou seja, que ela morra para o país. Nunca mais as manias
estranhas, nunca mais o corte de cabelo bonito. Tudo se foi.
No final, um vence. Graças ao
publico, graças a sua habilidade na arena, não de bater, mas de ser
carismático, de dizer e fazer as coisas certas. Todos os envolvidos (brothers,
publico, produção) constituem um sistema, e o sistema alimenta a si mesmo. Tudo
ali é construído: as pessoas, as ocasiões, as relações entre as pessoas.
Choros, lamentações, apelações, comoções, armações, muita coisa em jogo,
nenhuma delas natural.
Então alguém vai dizer: moranguinho do nordeste, eu não quero ver
pessoas sofrendo fisicamente, isso é cruel!
E quanto a No Limite? E quanto a Hiper
Tensão? Só cito esses porque são os únicos que conheço que exploram o
limite humano do medo e da sobrevivência, mas com certeza há mais desses.
Então, sim, estou realmente
dizendo que se você assiste a reality shows está provavelmente sendo distraído e
alienado pelo estado e pela mídia.
Qual é a lição que podemos tirar
disso, crianças?
Commodus quer te ver morto |
Isso me lembra os pinguins de
Madagascar.
E eu já tenho duas páginas e meia
de Word e ainda não falei do Haymitch!
Haymitch é o cara mais foda do
livro. Ponto. Não dá pra falar muito sobre ele agora porque ainda estamos na
arena... Como diriam os adoradores de hashtag que colocam até na redação do
ENEM: #chatiada.
Então Katniss chega no mato e
segue algumas instruções de meu amado Haymitch, como por exemplo “fiquem vivos”,
que é de fato a coisa mais útil e sensata que pode ser dita. Ela e Peeta se
separam e a gente só vai vê-lo novamente quando ele se junta a um grupo que se
formou na arena. As alianças eram muito comuns nos Jogos, garantiam hegemonia
de força, então no final sobravam eles e basta matar uns aos outros e o que
ficar no final samba na cara deles.
Não vou entrar em detalhes sobre
as mortes, porque são um espetáculo a parte. (Viram? Gosto das mortes. E vocês
também. O ser humano se entretém com a morte, é fato.)
Uma coisa linda que acontece:
Katniss conhece uma garotinha que a lembra muito sua irmã mais nova. Rue
pertence ao distrito 11, onde o ritmo é chapa quente. Lá é ditadura mesmo, e da
brava. No 12 a coisa é feia, mas não como no 11. Lá, as execuções são mais
frequentes, é mais fácil ser punido, a opressão é maior e o controle é muito
mais forte. Pacificadores por todos os lados explodindo a cabeça dos que não
trabalhassem, coisas do tipo.
Como eu disse, a garotinha
lembrava muito a irmã dela, exceto pelo fato de Rue subir em árvores como um
macaco e sobreviver melhor do que o diabo na missa, enquanto Prim certamente só
choraria e tentaria sair curando todo mundo por aí fazendo todos dizerem “own”.
Sim, desenvolvi uma revolta por
Primrose Everdeen. Não me perguntem mais.
Já que ressaltei a superioridade
de Rue sobre Prim, posso continuar.
Bom, como Katniss é uma caçadora
e tem familiaridade com a floresta level élfico (embora os elfos não matem
animais), elas pensam: vamos acabar com o suprimento de comida deles, então eles
morrem de fome e a gente não. Então ela elabora um plano onde ela solta uma
menininha na floresta para atrair um bando de máquinas mortíferas que não veem
a hora de colocar a carne delas pra assar...
Enfim, enquanto Rue faz o
trabalho pesado, o único que fica pra Katniss lutar é um nerd ocludo do
distrito 3. E todo mundo sabe que os nerds são os caras que apanham nos filmes
para adolescentes!
Bom, o que ela não sabia é que
ele tinha armado e enterrado bombas ao redor da comida, formando um campo
minado. Por mim, ela morreria naquele momento para mostrar que a inteligência
supera a força e que a revolução tecnológica é o que domina o mundo, enquanto a
arena se transforma num tecnopolo igual ao Vale do Silício.
Uma garota mais esperta que
Katniss estava por perto vigiando e sacou logo o que havia sido feito, então
começou a pular amarelinha pra lá e pra cá, pegou a comida e foi-se embora.
Katniss demorou uma eternidade para entender que a menina estava evitando as
minas e então deu três flechadas certeiras (sim, sim, ela tinha conseguido um
arco) no saco de maçãs que estava no topo da pilha de alimentos, que foram
pesadas o suficiente para explodir as minas e fazer a comida voar pelos ares.
Ok, ele era o nerd mais burro que
poderia ter entrado na arena. Não dava pra fazer com que as pessoas explodissem
mais pra longe de modo que a comida ficasse intacta?
Respira.
Tudo bem, depois de ter explodido
as minas do nerd mais burro do mundo, Katniss fica surda do ouvido esquerdo. E
não se esqueçam que nesse tempo todo Rue ficou sozinha na floresta atraindo os
caras maus para si esperando o raciocínio lento de Katniss se organizar e ela
sair dali. Ela demora horas para perceber que Rue não estava voltando e então vai
atrás dela.
E eu esqueci de falar dos tordos!
Como pode? Os tordos são pássaros que o Capitol nunca tencionou que existissem.
Sim, os tordos são mais
plausíveis que os gaios tagarelas, porque algo chamado bico os impediria de
reproduzir com perfeição as falas. Enfim, quem liga pra biologia?
Bom, Rue ensinou uma canção de
quatro notas para ser uma mensagem subliminar entre elas. Para avisar que
estavam bem, era só uma cantar essa canção e então os tordos repetiriam por
toda a floresta, fazendo com que a outra não se preocupe. Katniss cantou a
canção da Branca de Neve. Rue não.
Já dá pra perceber, não é?
Katniss não consegue salvar Rue e outro tributo a mata, para evitar uma cena em
que Katniss tenha que matá-la e a imagem da personagem seja manchada.
Bom, a vida continua. Katniss faz
uma coisa muito rebelde: coloca flores ao redor do corpo de Rue e canta uma
canção de ninar para ela “dormir”. É lindo, e é sim, isso é rebeldia.
Transforma Rue em um mártir, o símbolo da inocência e da amizade que são
maculadas pela Capital do Mal.
Bom, como eu disse, a vida
continua, né? O narrador dos jogo (acho que é isso) anuncia pros tributos na
arena que as regras mudaram e que duas pessoas podem vencer os Jogos, contanto
que sejam do mesmo distrito.
– Peeta! – Katniss grita, e sai
atrás do seu suposto grande amor. O encontra numa situação muito... muito...
Ah, como eu vou explicar aquela
merda? Bom, ele estava assim:
Muito talento se pintar desse
jeito, mas o tempo que ele levou pra fazer isso dava pra ele... bom, não dava
pra fazer nada mesmo, porque ele estava com uma ferida imensa e mortal na perna
e não sabia caçar, subir em árvores ou sobreviver de qualquer maneira. É, era a
única coisa que um decorador de bolos poderia fazer.
Mas fica a questão no ar: onde
ele achou a porra da tinta?
Bom, Katniss volta a ser
inteligente, mas como tudo é relativo, suponho que ela seja burra em relação a
Rue e inteligente em relação a Peeta. Mas não me julguem, acho Peeta um máximo,
mas não pra sobreviver.
Então eles vão para uma caverna
ficar brincando de médico. Peeta faz diversas declarações de amor para Katniss,
mas ela não sabe se ele só está encenando para as câmeras ou se era de verdade.
E é claro que ainda tinha Gale esperando em casa, e Gale era o tipo certo de
garoto errado. Então ela deixa ele na friendzone e vai fingir seu amor por
Peeta pra conseguir as graças do público.
Bom, sobre a questão das
aparências já falei, entreter o publico etc etc etc.
E agora é hora de falar de
Haymitch!!!
Que alegria *-*
Ele tem uma facilidade de
comunicação com Katniss: quando ela beija peeta, ele manda alguma ajudinha dos
patrocinadores, que cai (literalmente) de paraquedas pra ela, como sopa,
remédio... dependendo da intensidade do beijo ou da profundidade da situação.
Imagino que se eles tivessem feito... sabe...
Enfim, os tributos vão morrendo e
Katniss consegue remédio pra perna de Peeta. Não é o suficiente pra curar uma
macumba daquelas, mas ameniza e evita infecções. Chega a um ponto em que só
sobram eles e mais um carinha do Distrito 1, Cato, que é profissional e só está
lá pra matar. No filme ele dá uma amarelada, começa a chorar dizendo “vamos
todos morrer, mimimi, mamãe te amo”, mas no livro ele é mais macho e está de
fato empolgado por ter chegado no grande final.
Ok, todo mundo sabe que eles
conseguem eliminar Cato e essa é a pior morte do livro, mas não vou descrevê-la
porque é uma coisa interessante de se ler. Embora, é claro, eu possivelmente já
tenha estragado a maioria das surpresas da história.
Amanhece e eles estão lá, caindo
na real, percebendo que vão poder se comunicar com a família sem a ajuda do
Chico Xavier, quando vem aquela voz do narrador anunciando que os idealizadores
mudaram de ideia e que agora só podia sobreviver um no final mesmo. Ou seja, um
teria que matar o outro.
Troll HSAUSHAUHSUAHSUAHSUAHSA
Mas então, numa rara demonstração
de raciocínio, Katniss pega umas amoras venenosas que achou no mato e disse:
– Peeta, sabe quando sua mãe
dizia “não coloca isso na boca, seu moleque lazarento”? É hora de desobedecer.
E Peeta diz:
– Desculpa, mamãe.
Foi um pacto suicida meio sem sentido,
porque Katniss passou o livro inteiro preocupada com quem alimentaria sua família
caso ela morresse, e então ela resolve morrer.
Mas é aí que entra a parte
inteligente. Eles estão colocando as amoras na boca quando o narrador grita
desesperado:
– Parem! Parem! Podem viver, flw?
E começa a tocar Ivete Sangalo e
eles são tirados da Arena para serem tratados.
Os estereótipos voltam a aparecer
e Katniss tem que se encaixar em todos eles antes de aparecer na TV para dar
entrevista, é claro. Não é como na arena, onde você podia aparecer perebento e
tudo bem.
O problema é que a Capital estava
furiosa com ela por ter desafiado seu poder e eles tem que fingir que são uma
espécie de casal de crepúsculo, frívolos e estúpidos. Mas fingir ser estípida
Katniss faz bem, e Peeta nem precisa fingir...
Senhor, estou xingando os
personagens de novo! Só pra esclarecer, gosto tanto de Peeta que até perdoo o
fato de ele ser um príncipe encantado, mas é que essas partes cheias de declarações
são um saco.
Bom, como já falei bastante sobre
como manter as aparências para salvar a alienação e permanecer vivos, não
preciso cansar ninguém falando disso, certo?
Certo.
E bem, no final Katniss não sabe
se realmente gostava de Peeta ou se estava fingindo e resolve dar o fora nele
porque é uma mulher independente e autossuficiente.
Collins deve ser feminista.
Bom, é isso. Passei tanto tempo
escrevendo essa resenha que até estranhei terminá-la.
Fiquem ligados na decadência e ah,
já ia me esquecendo: eu realmente amo o Haymitch.
Érica Prado tem 16 anos, pretende cursar história, ouve metal e reclamações o tempo todo. Gosta de coisas fáceis tipo miojo e, portanto, não gosta da vida. Não, você não pode simplesmente gostar dos dois. |