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domingo, 14 de outubro de 2012

Resenha: Jogos Vorazes, parte 2



Hoje é dia, segundo a minha agenda que nunca sigo, de estudar para biologia. Então é claro que resolvi continuar a resenha sobre Jogos Vorazes que, como eu disse, é o super-ultra-mega-best-seller de Suzanne Collins.


Muita gente deve achar os jogos algo utópico e exagerado. Alguém, e não me lembro quem foi, me disse: Que tipo de população aclamaria jogos onde pessoas tem que lutar até a morte? Ninguém vê uma coisa dessas.

Será que não?


Por que não vamos a Roma, então? Eles também tinham uma arena, o coliseu, e também tinham tributos, os gladiadores. E eles tinham que lutar até a morte, com direito até a animais entrando em cena por vezes pra apimentar as coisas. E dependia da aprovação do público deixar o gladiador vivo. O Imperador, claramente, atendia esse capricho da população, deixando vivo seu favorito ou mandando matar aqueles que queriam ver mortos. Tudo era entretenimento para manter as pessoas ocupadas e impedir que pensem além de reality shows, impedir que pensem em romper com o governo, impedir que pensem em... bom, impedir que pensem, de fato.



E qualquer semelhança com Jogos Vorazes não é mera coincidência.


A arena de Jogos Vorazes é muito mais futurista que o coliseu, é claro, mas ambos são reality shows, não são? Nos Jogos, os tributos são monitorados por câmeras e então todo o país pode assistir por TV eles sendo mortos das maneiras mais sádicas possíveis.



Como em Roma, eles devem lutar uns contra os outros. Como em Roma, nada é facilitado para ninguém e o governo faz de tudo para as mortes serem bem criativas e interessantes. Como em Roma, tudo depende da aprovação popular e tudo acontece da maneira que a população desejar. E, como em Roma, aquilo era tudo entretenimento como demonstração de poder.


Mas por que, afinal, Roma? Por que não nossa sociedade atual?


Porque nossa sociedade atual é, como Panem, uma versão mais moderna de Roma.


Então você pode pensar: mas nós não assistiríamos pessoas matando umas as outras só para nos divertir.


Não mesmo? Então vamos deixar o coliseu de lado e entrar na realidade atual. Entre o passado e o futuro, temos o Big Brother.

Procurei no Google e achei um monte de logo do BBB. Não sei qual é o atual, então peguei o mais bonitinho rsrs.


Sei que não é esse programa o único que define a dominação do estado através da mídia, mas é o que está mais próximo de nós.


E sim, no BBB as pessoas matam umas as outras. Não fisicamente, mas psicologicamente. Quando uma pessoa elimina a outra, ou faz com que o público elimine, ela está fazendo com que a pessoa seja esquecida, ou seja, que ela morra para o país. Nunca mais as manias estranhas, nunca mais o corte de cabelo bonito. Tudo se foi.


No final, um vence. Graças ao publico, graças a sua habilidade na arena, não de bater, mas de ser carismático, de dizer e fazer as coisas certas. Todos os envolvidos (brothers, publico, produção) constituem um sistema, e o sistema alimenta a si mesmo. Tudo ali é construído: as pessoas, as ocasiões, as relações entre as pessoas. Choros, lamentações, apelações, comoções, armações, muita coisa em jogo, nenhuma delas natural.


Então alguém vai dizer: moranguinho do nordeste, eu não quero ver pessoas sofrendo fisicamente, isso é cruel!


E quanto a No Limite? E quanto a Hiper Tensão? Só cito esses porque são os únicos que conheço que exploram o limite humano do medo e da sobrevivência, mas com certeza há mais desses.


Então, sim, estou realmente dizendo que se você assiste a reality shows está provavelmente sendo distraído e alienado pelo estado e pela mídia.


Qual é a lição que podemos tirar disso, crianças?


Commodus quer te ver morto
Roma, Panem e vida real são a mesma coisa: puro pão e circo. Você se diverte com pessoas porque elas são produtos e a televisão é uma grande vitrine. E quem participa disso não faz ideia do que está acontecendo. Bom, talvez os tributos e com certeza os idealizadores, mas o publico – em especial o da Capital (ou Capitol, vulgo Caralho a Quatro) – só quer mesmo é ser feliz.



Isso me lembra os pinguins de Madagascar. 

Sorriam e acenem, rapazes, apenas sorriam e acenem...


E eu já tenho duas páginas e meia de Word e ainda não falei do Haymitch!


Haymitch é o cara mais foda do livro. Ponto. Não dá pra falar muito sobre ele agora porque ainda estamos na arena... Como diriam os adoradores de hashtag que colocam até na redação do ENEM: #chatiada.



Então Katniss chega no mato e segue algumas instruções de meu amado Haymitch, como por exemplo “fiquem vivos”, que é de fato a coisa mais útil e sensata que pode ser dita. Ela e Peeta se separam e a gente só vai vê-lo novamente quando ele se junta a um grupo que se formou na arena. As alianças eram muito comuns nos Jogos, garantiam hegemonia de força, então no final sobravam eles e basta matar uns aos outros e o que ficar no final samba na cara deles.



Bom, como ela já era acostumada a caçar para alimentar sua família, ela até que sobreviveu relativamente bem. Os Idealizadores dos jogos não facilitavam nada, mas pelo menos ela estava viva.
Não vou entrar em detalhes sobre as mortes, porque são um espetáculo a parte. (Viram? Gosto das mortes. E vocês também. O ser humano se entretém com a morte, é fato.)



Uma coisa linda que acontece: Katniss conhece uma garotinha que a lembra muito sua irmã mais nova. Rue pertence ao distrito 11, onde o ritmo é chapa quente. Lá é ditadura mesmo, e da brava. No 12 a coisa é feia, mas não como no 11. Lá, as execuções são mais frequentes, é mais fácil ser punido, a opressão é maior e o controle é muito mais forte. Pacificadores por todos os lados explodindo a cabeça dos que não trabalhassem, coisas do tipo.



Como eu disse, a garotinha lembrava muito a irmã dela, exceto pelo fato de Rue subir em árvores como um macaco e sobreviver melhor do que o diabo na missa, enquanto Prim certamente só choraria e tentaria sair curando todo mundo por aí fazendo todos dizerem “own”.


Sim, desenvolvi uma revolta por Primrose Everdeen. Não me perguntem mais.


Já que ressaltei a superioridade de Rue sobre Prim, posso continuar.


Bom, como Katniss é uma caçadora e tem familiaridade com a floresta level élfico (embora os elfos não matem animais), elas pensam: vamos acabar com o suprimento de comida deles, então eles morrem de fome e a gente não. Então ela elabora um plano onde ela solta uma menininha na floresta para atrair um bando de máquinas mortíferas que não veem a hora de colocar a carne delas pra assar...


Enfim, enquanto Rue faz o trabalho pesado, o único que fica pra Katniss lutar é um nerd ocludo do distrito 3. E todo mundo sabe que os nerds são os caras que apanham nos filmes para adolescentes!


Bom, o que ela não sabia é que ele tinha armado e enterrado bombas ao redor da comida, formando um campo minado. Por mim, ela morreria naquele momento para mostrar que a inteligência supera a força e que a revolução tecnológica é o que domina o mundo, enquanto a arena se transforma num tecnopolo igual ao Vale do Silício.



Mas a revolução nerd tem que esperar.


Uma garota mais esperta que Katniss estava por perto vigiando e sacou logo o que havia sido feito, então começou a pular amarelinha pra lá e pra cá, pegou a comida e foi-se embora. Katniss demorou uma eternidade para entender que a menina estava evitando as minas e então deu três flechadas certeiras (sim, sim, ela tinha conseguido um arco) no saco de maçãs que estava no topo da pilha de alimentos, que foram pesadas o suficiente para explodir as minas e fazer a comida voar pelos ares.



Ok, ele era o nerd mais burro que poderia ter entrado na arena. Não dava pra fazer com que as pessoas explodissem mais pra longe de modo que a comida ficasse intacta?
Respira.


Tudo bem, depois de ter explodido as minas do nerd mais burro do mundo, Katniss fica surda do ouvido esquerdo. E não se esqueçam que nesse tempo todo Rue ficou sozinha na floresta atraindo os caras maus para si esperando o raciocínio lento de Katniss se organizar e ela sair dali. Ela demora horas para perceber que Rue não estava voltando e então vai atrás dela.


E eu esqueci de falar dos tordos! Como pode? Os tordos são pássaros que o Capitol nunca tencionou que existissem.



Vou explicar: eles criaram pássaros geneticamente modificados chamados gaios tagarelas na época dos Dias Escuros, quando os distritos se rebelaram. Os pássaros eram capazes de reproduzir o que as pessoas falavam, então eles soltavam nos distritos e quando os pássaros voltavam, funcionavam como escuta. Mas acabou que eles ficaram ultrapassados e foram jogados na natureza, cruzando com tordos e formando outra espécie de tordos. Eles não reproduziam conversas fielmente, mas faziam igual aos passarinhos das versões da Disney de contos de fadas: imitavam as notas musicais.


Sim, os tordos são mais plausíveis que os gaios tagarelas, porque algo chamado bico os impediria de reproduzir com perfeição as falas. Enfim, quem liga pra biologia?


Bom, Rue ensinou uma canção de quatro notas para ser uma mensagem subliminar entre elas. Para avisar que estavam bem, era só uma cantar essa canção e então os tordos repetiriam por toda a floresta, fazendo com que a outra não se preocupe. Katniss cantou a canção da Branca de Neve. Rue não.


Já dá pra perceber, não é? Katniss não consegue salvar Rue e outro tributo a mata, para evitar uma cena em que Katniss tenha que matá-la e a imagem da personagem seja manchada.



Nada disso teria acontecido se a autora tivesse se rendido à revolução nerd.



Bom, a vida continua. Katniss faz uma coisa muito rebelde: coloca flores ao redor do corpo de Rue e canta uma canção de ninar para ela “dormir”. É lindo, e é sim, isso é rebeldia. Transforma Rue em um mártir, o símbolo da inocência e da amizade que são maculadas pela Capital do Mal.




Bom, como eu disse, a vida continua, né? O narrador dos jogo (acho que é isso) anuncia pros tributos na arena que as regras mudaram e que duas pessoas podem vencer os Jogos, contanto que sejam do mesmo distrito.

– Peeta! – Katniss grita, e sai atrás do seu suposto grande amor. O encontra numa situação muito... muito...

Ah, como eu vou explicar aquela merda? Bom, ele estava assim:

Sim, essa porra é o Peeta.


Muito talento se pintar desse jeito, mas o tempo que ele levou pra fazer isso dava pra ele... bom, não dava pra fazer nada mesmo, porque ele estava com uma ferida imensa e mortal na perna e não sabia caçar, subir em árvores ou sobreviver de qualquer maneira. É, era a única coisa que um decorador de bolos poderia fazer.


Mas fica a questão no ar: onde ele achou a porra da tinta?


Bom, Katniss volta a ser inteligente, mas como tudo é relativo, suponho que ela seja burra em relação a Rue e inteligente em relação a Peeta. Mas não me julguem, acho Peeta um máximo, mas não pra sobreviver.


Então eles vão para uma caverna ficar brincando de médico. Peeta faz diversas declarações de amor para Katniss, mas ela não sabe se ele só está encenando para as câmeras ou se era de verdade. E é claro que ainda tinha Gale esperando em casa, e Gale era o tipo certo de garoto errado. Então ela deixa ele na friendzone e vai fingir seu amor por Peeta pra conseguir as graças do público.



Bom, sobre a questão das aparências já falei, entreter o publico etc etc etc.


E agora é hora de falar de Haymitch!!!


Que alegria *-*


Ele tem uma facilidade de comunicação com Katniss: quando ela beija peeta, ele manda alguma ajudinha dos patrocinadores, que cai (literalmente) de paraquedas pra ela, como sopa, remédio... dependendo da intensidade do beijo ou da profundidade da situação. Imagino que se eles tivessem feito... sabe...


Enfim, os tributos vão morrendo e Katniss consegue remédio pra perna de Peeta. Não é o suficiente pra curar uma macumba daquelas, mas ameniza e evita infecções. Chega a um ponto em que só sobram eles e mais um carinha do Distrito 1, Cato, que é profissional e só está lá pra matar. No filme ele dá uma amarelada, começa a chorar dizendo “vamos todos morrer, mimimi, mamãe te amo”, mas no livro ele é mais macho e está de fato empolgado por ter chegado no grande final.


Ok, todo mundo sabe que eles conseguem eliminar Cato e essa é a pior morte do livro, mas não vou descrevê-la porque é uma coisa interessante de se ler. Embora, é claro, eu possivelmente já tenha estragado a maioria das surpresas da história.



Amanhece e eles estão lá, caindo na real, percebendo que vão poder se comunicar com a família sem a ajuda do Chico Xavier, quando vem aquela voz do narrador anunciando que os idealizadores mudaram de ideia e que agora só podia sobreviver um no final mesmo. Ou seja, um teria que matar o outro.



Troll HSAUSHAUHSUAHSUAHSUAHSA


Mas então, numa rara demonstração de raciocínio, Katniss pega umas amoras venenosas que achou no mato e disse:


– Peeta, sabe quando sua mãe dizia “não coloca isso na boca, seu moleque lazarento”? É hora de desobedecer.


E Peeta diz:


– Desculpa, mamãe.


Foi um pacto suicida meio sem sentido, porque Katniss passou o livro inteiro preocupada com quem alimentaria sua família caso ela morresse, e então ela resolve morrer.


Mas é aí que entra a parte inteligente. Eles estão colocando as amoras na boca quando o narrador grita desesperado:


– Parem! Parem! Podem viver, flw?


E começa a tocar Ivete Sangalo e eles são tirados da Arena para serem tratados.


Os estereótipos voltam a aparecer e Katniss tem que se encaixar em todos eles antes de aparecer na TV para dar entrevista, é claro. Não é como na arena, onde você podia aparecer perebento e tudo bem.



O problema é que a Capital estava furiosa com ela por ter desafiado seu poder e eles tem que fingir que são uma espécie de casal de crepúsculo, frívolos e estúpidos. Mas fingir ser estípida Katniss faz bem, e Peeta nem precisa fingir...


Senhor, estou xingando os personagens de novo! Só pra esclarecer, gosto tanto de Peeta que até perdoo o fato de ele ser um príncipe encantado, mas é que essas partes cheias de declarações são um saco.


Bom, como já falei bastante sobre como manter as aparências para salvar a alienação e permanecer vivos, não preciso cansar ninguém falando disso, certo?


Certo.


E bem, no final Katniss não sabe se realmente gostava de Peeta ou se estava fingindo e resolve dar o fora nele porque é uma mulher independente e autossuficiente.


Collins deve ser feminista.


Bom, é isso. Passei tanto tempo escrevendo essa resenha que até estranhei terminá-la.
Fiquem ligados na decadência e ah, já ia me esquecendo: eu realmente amo o Haymitch. 


Sobre a Autora:
Érica Prado Érica Prado tem 16 anos, pretende cursar história, ouve metal e reclamações o tempo todo. Gosta de coisas fáceis tipo miojo e, portanto, não gosta da vida. Não, você não pode simplesmente gostar dos dois.
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1 Comentários

Um comentário:

Coletivo Poesia Marginal disse...

Eu sei que você me ama, Sansa.