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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Ruínas de ilusão

Ruínas de ilusão




          Um ladrão, por que não? Eu já convivi com tipos piores, e eu mesma era um. E se eu fui feita, em meus sonhos, uma princesa, por que um bandido não poderia ser feito um príncipe? Ou eu seria uma ladra de ilusões e uma princesa na vida? Não saberia dizer. Muito tempo atrás eu havia perdido a noção de vida e ilusão, com o roxo.

          Mas hoje, durante o programa – ladra e prostituta acabam por ser a mesma coisa em cidades tão pobres quanto a minha – o faria meu príncipe, na esperança de não me derrubar de meu castelo de sonhos como homens que eu julgara mais nobres gostavam de fazer. Afinal, que mal havia em levar garotas de poucas cores à sua realidade novamente?

          Passaríamos a noite conversando sobre os nomes que nossos nobres filhos teriam e sobre como nunca perderiam as cores. Sobre como eles herdariam todo o reino do borralho e da fuligem. Ou seria toda a fuligem e o borralho do reino? Eu não sabia. Eu nunca sabia.

          Sobre como minha filha não teria de lutar com seus príncipes após a noite de núpcias. Sobre como nosso filho não teria de roubar prostitutas para viver. Falaríamos sobre tudo, da vida, da ilusão e da morte. Falaríamos sobre como nossos filhos não teriam de ser como nós.

          Ou será que ele apenas riria de mim, com seus dentes amarelos – oh, amarelo -, e depois me roubaria a vida? Ou as ilusões? O dinheiro da noite, ou até quem sabe outra cor, como havia feito o príncipe branco? Será que tudo já teria ocorrido, e eu não sabia? Ou de fato ainda iria ocorrer? Será que a vida já estava passando e eu estava novamente envolta em ilusões? Eu não sabia. Eu nunca sabia.


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