Flutuava longe do chão, como quem pudesse voar. E por um instante podia.
Era no breve instante em que sua mente vagava, perambulava por ruas estreitas e largas avenidas; em que dançava num espetáculo de orvalho durante o cair da madrugada; viajava por países, estados e continentes; instantes no qual se metamorfoseava, se transformava e desabrochava numa tulipa, numa rosa e às vezes, por erro magnífico, num pequeno colibri.
E nisso, acabava por gostar de errar.
Num sorriso, num pensamento, desaguava em marés, vivia correndo pelos quatro cantos do mundo, por um momento – num infinitesimalmente pequeno espaço de tempo – era feliz e podia esquecer-se do mundo. Da triste realidade. Nos últimos dias, não pensava na vida. Ignorava o sopro que rodeava-lhe as mãos, ignorava um completo mundo que a envolvia.
Mas de súbito, lhe vinha a mente um mundo colapsado, uma linha tênue que rompia-lhe o imaginário. Que transmutava todos as matizes em cinza. Assim como seus sonhos: nada mais que pó.
Via o mundo despedaçando, em frangalhos ao chão. O céu se rompia, tons de cinza. Colibris desaparecendo...
E nisso, se escondia, retraía as asas e desaparecia dos céus por um longo tempo. Fases obscuras, ciclos intermináveis... Torpe, o mundo rodopiava embriagado pela própria vida, ou ausência dela.
Despertara em um cômodo qualquer, em uma cama qualquer. Móveis empoeirados. Um piano que jazia intocado. O lado direito da cama, imaculado. O som do silêncio. O mundo que antes parecia se dividir, permanecia incólume, exceto pelos tons de cinza que permeavam a mente. Exceto pela chuva que tamborilava na janela, exceto - sobretudo - pela ausência, pelo vago na cama. Por longo tempo, era como se a felicidade dependesse do outro, única e exclusivamente. E agora, teria esquecido?
Poderia voar; poderia descobrir novas mentes, novos universos paralelos. Mas sempre sua mente retornava ao ponto que queria esquecer.
Tardiamente, o mundo voltava aos tons normais, sem motivos aparentes. Substituía o cinza, revelando novas matizes. Noutras, um completo abismo se erguia sob seus pés. Faltava-lhe asas.
A embriagante sensação de voar que dominava o ser. Os pensamentos, como
estrelas, que não se pode organizar em constelações.
Depois a dor.
Gilson tem 15 anos, ama escrever prosa e narrativas. Tem um gosto por ser clichê e ser irônico boa parte do tempo. Escreve por um mundo melhor, ao menos, em sua mente. |