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domingo, 18 de novembro de 2012

Entre lacunas e cores


Flutuava longe do chão, como quem pudesse voar. E por um instante podia. 

Era no breve instante em que sua mente vagava, perambulava por ruas estreitas e largas avenidas; em que dançava num espetáculo de orvalho durante o cair da madrugada; viajava por países, estados e continentes; instantes no qual se metamorfoseava, se transformava e desabrochava numa tulipa, numa rosa e às vezes, por erro magnífico, num pequeno colibri. 

E nisso, acabava por gostar de errar. 

Num sorriso, num pensamento, desaguava em marés, vivia correndo pelos quatro cantos do mundo, por um momento – num infinitesimalmente pequeno espaço de tempo – era feliz e podia esquecer-se do mundo. Da triste realidade. Nos últimos dias, não pensava na vida. Ignorava o sopro que rodeava-lhe as mãos, ignorava um completo mundo que a envolvia. 

Mas de súbito, lhe vinha a mente um mundo colapsado, uma linha tênue que rompia-lhe o imaginário. Que transmutava todos as matizes em cinza. Assim como seus sonhos: nada mais que pó. 

Via o mundo despedaçando, em frangalhos ao chão. O céu se rompia, tons de cinza. Colibris desaparecendo...

E nisso, se escondia, retraía as asas e desaparecia dos céus por um longo tempo. Fases obscuras, ciclos intermináveis... Torpe, o mundo rodopiava embriagado pela própria vida, ou ausência dela.

Despertara em um cômodo qualquer, em uma cama qualquer. Móveis empoeirados. Um piano que jazia intocado. O lado direito da cama, imaculado. O som do silêncio. O mundo que antes parecia se dividir, permanecia incólume, exceto pelos tons de cinza que permeavam a mente. Exceto pela chuva que tamborilava na janela, exceto - sobretudo - pela ausência, pelo vago na cama. Por longo tempo, era como se a felicidade dependesse do outro, única e exclusivamente. E agora, teria esquecido?

Poderia voar; poderia descobrir novas mentes, novos universos paralelos. Mas sempre sua mente retornava ao ponto que queria esquecer.

Tardiamente, o mundo voltava aos tons normais, sem motivos aparentes. Substituía o cinza, revelando novas matizes. Noutras, um completo abismo se erguia sob seus pés. Faltava-lhe asas.

A embriagante sensação de voar que dominava o ser. Os pensamentos, como estrelas, que não se pode organizar em constelações.

Depois a dor.


Sobre o Autor:
Gilson Santiago Gilson tem 15 anos, ama escrever prosa e narrativas. Tem um gosto por ser clichê e ser irônico boa parte do tempo. Escreve por um mundo melhor, ao menos, em sua mente.
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