Há um tempo eu estava curiosa
para ler um livro de Carolina Munhoz. Por quê? Bem, achei que ela tinha um
perfil interessante; parecia criativa, faz parte do Potterish, gostei da forma
como se apresentou na bienal e seu último livro, O Inverno das Fadas tem tido
uma repercussão muito grande. Ficou apenas atrás de Guerra dos Tronos na lista
de mais vendidos da editora leYa no Brasil e, bom, isso não é para qualquer um.
Sem falar que não há como não simpatizar com uma pessoa que tem uma Edwirges de
pelúcia.
Mas, afinal, a simpatia de uma
pessoa com a qual nunca sequer conversei não é o suficiente. Indiquei o livro e
uma amiga minha comprou. Li antes dela e ainda por cima estou fazendo uma
resenha.
Como um ser humano pode ser tão cruel?
Quando li a sinopse do livro eu
já não acreditava muito que fosse realmente gostar, o que é um problema porque,
como eu disse, a autora é um amor. O que eu iria dizer? Oi, Carolina, te acho
legal como pessoa mas odiei seu livro!
Bom, eu só poderia saber lendo.
O Inverno das Fadas conta a
história de Sophia Coldheart, uma fada. Mas não uma fada qualquer! Ela era uma Leanan
Sídhe, uma musa. Fadas como ela iam ao mundo dos humanos, tinham relações com
brilhantes artistas e os faziam apaixonar-se perdida e irremediavelmente por elas.
Então essas fadas sugavam a energia do artista enquanto eles produziam as
melhores obras de sua vida. Enquanto os artistas faziam sua arte elas eram
recarregadas como celulares. Elas precisavam disso, fazia parte de sua natureza
e, sem a energia dos humanos, elas morreriam. Quando toda a energia desses
humanos em questão acabava e a fada se sentia satisfeita, ela abandonava seu
artista e ele se matava.
Então Sophia conhece William, um
jovem escritor amador inglês, mas algo foge dos seus planos: ela também se
apaixona por ele. O que ele tinha de especial? Era bom de cama. Juntos, eles
vivem uma intensa e melosa história de amor proibido, sobre a qual iremos falar
agora.
Primeiro, as coisas boas do
livro.
A forma como a autora transmite o
sentimento do artista, o sonho de ser escritor, é muito boa. Provavelmente por
ter o mesmo sonho e a mesma paixão que seu personagem, Carolina Munhoz sabe
expressar o que um jovem escritor quer de sua arte, de sua vida. A autora compreende
o que o personagem sente em relação a isso e nesse ponto ela acertou um dardo
certeiro.
Outro fator que conta a favor
dela, quebrando alguns estereótipos, é a naturalidade com que a
homossexualidade é retratada, pois Sophia tinha relações com artistas homens e
mulheres e se lembrava de ambos sem distinção.
Os artistas da obra são
reconhecíveis. Pude perceber a presença de Kurt Cobain na obra, e também Amy
Winehouse. Não vou citar todos os que foram colocados para não tirar esse
direito de quem for, eventualmente, lê-la. A questão é que foi inteligente a
forma como eles foram colocados e, embora eu tenha sentido falta de artistas
como Rodin, é um livro voltado para adolescentes e é o gosto adolescente que
predomina nela. Logo, Kurt Cobain faz mais sentido se olharmos por esse ponto.
Isso porque Rodin é colocado em um patamar diferente de Cobain – o que me daria
espaço para uma análise mais aprofundada, mas talvez agora não seja o momento
para isso – e então parece mais inalcançável. Alguns tipos de arte parecem
intelectuais demais ao senso comum e as pessoas ainda não perceberam que elas
são para todos e não só para alguns.
Outra coisa que chama a atenção é a forma como ela fala com riqueza da cultura do local onde se passa a história. Também temos o fato de cada capítulo começar com o trecho de uma música. Achei diferente. O gosto musical não é muito incomum se você gosta de rock mas não é um colorido do Restart e nem um Headbanger, mas não deixa de ser bom.
Pseudo-nacionalistas se incomodariam com o fato de todas as músicas serem internacionais, mas para mim música é música em qualquer lugar do mundo, assim como fantasia é fantasia em qualquer lugar do mundo e não me incomodo nem um pouco com o fato de o cenário ser a Inglaterra e não o Brasil.
Outra coisa que chama a atenção é a forma como ela fala com riqueza da cultura do local onde se passa a história. Também temos o fato de cada capítulo começar com o trecho de uma música. Achei diferente. O gosto musical não é muito incomum se você gosta de rock mas não é um colorido do Restart e nem um Headbanger, mas não deixa de ser bom.
Pseudo-nacionalistas se incomodariam com o fato de todas as músicas serem internacionais, mas para mim música é música em qualquer lugar do mundo, assim como fantasia é fantasia em qualquer lugar do mundo e não me incomodo nem um pouco com o fato de o cenário ser a Inglaterra e não o Brasil.
Bem, com isso sabemos que o livro
o Inverno das Fadas é um excelente livro, certo?
Errado.
Eu não seria capaz de negar as
qualidades de uma obra e até comecei por elas, mas são apenas detalhes ricos em
uma história fraca.
Sophia e William compartilham um
amor extremamente meloso e cansativo. A autora conta a história de um artista,
que a princípio era um bom personagem, mas acaba estragando-o e transformando e
uma espécie de Bella Swan com pênis.
Os personagens são extremamente forçados. Sophia é descrita como uma garota bonita, com cabelos loiros e olhos violeta tipo a Daenerys Targaryen, e é inteligente e experiente, mas parece simplesmente uma adolescente boba e burra.
Os personagens são extremamente forçados. Sophia é descrita como uma garota bonita, com cabelos loiros e olhos violeta tipo a Daenerys Targaryen, e é inteligente e experiente, mas parece simplesmente uma adolescente boba e burra.
“Durr, hurr, sou gostosa.”
– Sophia
Coldheart, sobre si mesma.
As cenas de romance são
cansativas e não tem nada de especial. Nem as cenas de sexo explícito são
excitantes.
William passa a rejeitar os
amigos que parecem ser personagens criados somente para serem ridicularizados. Forçosamente
chatos, sem uma personalidade real ou uma complexidade que os faça ir além de
meros obstáculos. É claro que Sophia tem também amigos que morreriam por ela,
como o típico amigo apaixonado da friendzone, cujo bem estar parece não ter
nenhuma importância para a garota; ou aquela amiga que é extremamente simpática
e gosta dela com a vida, mas em todos os momentos é tratada por Sophia com uma rispidez
infantil.
Sério, era infantil. Ela brigando
falava coisas como “eu cuido do meu próprio nariz” e “não se mete na minha vida”
como se fossem um grande discurso de liberdade.
Imagino ela cantando feliz
enquanto fugia de casa: lero, lero, lero,
você não me pega, tem bicho na cueca...
Mas continuando... Bella Swan
procura livros sobre mitologia antiga, pesquisa na internet e descobre que
Edward é um vampiro!
Não, história errada, me
desculpem, mas é que é muito parecido.
Então William procura livros
sobre mitologia antiga, pesquisa na internet e descobre que Sophia não é uma
fada comum, é uma Leanan Sídhe, perigosa musa que suga a vitalidade dos
artistas; que seu romance era uma sentença de morte.
A partir daí ele não faz nada que
a Bella bonitinha não faria. Ele, que é um garoto sem sal, que mora em uma
cidade pequena, que não se encaixa e odeia seus amigos. Ele, que só quer viver
ao lado do ser imortal que o ama descontroladamente. Ele, que preferia morrer a
não passar a eternidade do seu lado. Ele, que se apaixonou não por um vampiro
que brilha no sol, mas por uma fada que brilha no escuro (sério, ela brilha), o
que é muito mais original e bonitinho
quando se trata de uma fada.
Edward... digo, Sophia, passa
todo o livro prejudicando a vida do rapaz e fazendo-o definhar porque o amava
demais para deixá-lo ser feliz em uma longa vida cheia de sucessos; fazendo um
escritor talentoso e extremamente inteligente se transformar em uma verdadeira anta
porque não viveria sem ele. Não por ser má, mas por ser burra.
E nem mencionei a mania irritante
da autora de a cada parágrafo explicar que Sophia era uma Leanan Sídhe e o que
as Leanan Sídhes faziam. Dá vontade de jogar o livro pra um lado e deixá-lo
para sempre porque, caramba, eu já entendi
que ela é uma fada, pelo amor de Deus siga adiante!
Não, histórias que giram em torno
de um romance não me atraem, mas eu posso apreciar uma se for boa. O Morro dos Ventos
Uivantes, por exemplo, que não fala de outra coisa a não ser de um amor
avassalador de duas gerações, é um dos livros que mais gosto. E até romances
adolescentes podem ser bons, como mostra Jogos Vorazes e alguns textos não publicados
que já li.
Não é o fato de ser um romance
que fez o livro me desagradar. É o fato de ser um romance extremamente chato e
meloso, uma história que nunca sai do lugar.
Fiquei especulando quantas
estrelas eu daria para o livro. Pela qualidade da obra eu daria, imparcialmente,
duas estrelas. Mas é claro que há outros fatores:
+1 pela autora ser uma pessoa
legal;
+2 por ela citar respeitosamente Harry
Potter;
-5 por ela ter utilizado incorretamente
o termo “maquiavélico” (Página 88. Reflitam.);
+1 pela semelhança com Crepúsculo
que me rendeu uma ou duas piadas ruins;
+1 por ter o nome de Tolkien citado
(a breve menção dele abrilhanta qualquer obra);
+1 por os nomes dos capítulos
serem trechos de músicas;
-1 por, na maioria das vezes, a
música não ter muito a ver com o que se tratava o capítulo.
+1 por ter umas partes muito ótimas mais pro final.
+1 por ter umas partes muito ótimas mais pro final.
Se não
fosse pelo involuntário desrespeito a Maquiavel o livro teria 5 estrelas a
mais.
Três estrelas para o livro!
Érica Prado tem 17 anos, gosta de coisas fáceis tipo miojo, física, literatura e mudar o mundo. |