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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pequena

Quando nasci, não chorei. O médico preocupado me deu um tapa, e sem querer, abri o maior berreiro. Pra surpresa de todos, o meu choro alcançou todos os andares daquele prédio. O hospital inteiro naquele 27 de Setembro de 1995, soube que eu havia chegado. Que eu estava lá.

Meu berro foi muito maior que eu, quem olhava não podia acreditar que estava saindo de mim. Tão pequena eu era. E tão pequena continuei sendo por tanto tempo. Cresci, e ainda assim, continuei muito menor que todos. Olhava pra cima pra cumprimentar meus amigos, meus primos mais novos, meus avós.

Ninguém me superava quando a disputa na escola era por quem era menor, e eu nunca ganhava quando se tratava do maior. Por essas e outras me sentia mal. Sabia que uma hora ou outra eu precisaria crescer; mas não tinha certeza se cresceria. As dúvidas me atormentavam, levando meu sono embora e tirando minha fome.

Durante uma fase de minha vida, quando de repente meu corpo alongou-se um pouco, o medo me vestiu bem. Caindo em meu corpo feito luva em mãos. Tinha medo de ver o mundo de cima, e isso me cheirava a verão. Porque verão é a estação mais feliz do ano, e foi assim que me senti. Alongar seria como férias de janeiro; com gosto de mar.

Mas então o verão se foi, e meu corpo estabilizou novamente. Crescer aquele pouco me fez feliz, e quando teve fim, fez-me triste. Como a ordem natural da vida, tudo que começa uma hora termina. Dei-me conta então, finalmente com sensatez, que dali eu não passava. Eu nunca cumprimentaria um colega sem que ele se abaixasse pra me dar beijo na bochecha. Eu jamais seria do tamanho médio; comum. Eu era diferente, e eu precisava a partir dali conviver com esse fato. Encara-lo de frente.

Passei ano após ano lamentando. Desejando ser maior. Usando saltos mais altos que eu. Equilibrando-me em pernas de pau. Pra que um dia eu caísse e finalmente percebesse como eu era grande. Percebesse enfim, o quanto eu havia crescido durante todo aquele tempo sem me dar conta. Tudo que meu corpo não mostrava crescer eu cresci. Toda a maturidade me veio sem indícios, mas de repente estava ali.

Enquanto me preocupei com a quantidade de fita métrica eu precisaria pra medir meu corpo; não parei pra pensar num modo de medir minha mente. Ainda não havia sido inventada uma técnica exata pra medir minha capacidade emocional.

Ver tudo de baixo fez com que eu visse como o mundo era enorme. Meu corpo pequeno sustentou coisas grandes demais. Eu carregava o peso de tudo nas costas; com muita força. Carreguei fardos e naquele começo de verão de 2012, com quase dezoito anos de idade, percebi que havia me desfeito de todos os males. Tinha deixado de lado todos os fardos. Avaliando toda a minha vida, me dei por conta de que eu sou a maior garota do mundo. E que tudo que eu quiser estará sempre ao meu alcance.

 Para uma grande menina.
Sobre o Autor:
Rhaissa Ramon Sempre tive interesse por escrita e, principalmente, por leitura. Grande fã do escritor peruano Mario Llosa, apaixonada por outros tantos escritores sem papas na língua[...]
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