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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Querido Humbert



Este é um trecho do livro que estou escrevendo no projeto NaNoWriMo. Achei que fosse interessante compartilhar aqui.



Querido Humbert,

Lembra-se de que falei que queria falar sobre Benjamin? Pois bem, você ficará feliz em saber que mudei de ideia e que agora quero falar sobre Johnny. Isso foi porque fui tomar um café e ele estava particularmente desagradável. Acho que exagerei na mão, ficou extremamente forte e doce.

Lembra-se de como o café de Johnny era ruim? Fraco e amargo demais, bem o contrário. Eu já não tomava, apenas usava-o para esquentar as mãos enquanto assistíamos algum filme sobre poesia. Aposto que você não sabia que ele gostava de filmes de poesia, Humbert.

E às vezes eu dormia assistindo, com a cabeça no colo dele, porque estava muito cansada, mas ele não me acordava para poder levantar. Ficava lá, sentado no sofá com a cabeça jogada para o lado e o controle ainda na mão. Então eu acordava e o levava para o quarto. Ele ia andando mesmo que estivesse dormindo, bastava eu guiar. Era muito engraçado, mas eu nunca filmei.

Não sei qual estrela do meu céu era Johnny. Talvez ele fosse uma constelação do cinturão de Órion, ou talvez fosse uma estrelinha que ninguém planejou existir, mas que estava lá fazendo a diferença no céu.
E você, Humbert, quer saber que estrela seria? Você seria uma daquelas que a gente olha para o céu e vê pequenininha, mas que na realidade é bem grande só que está tão longe que é até surpreendente que seu brilho chegue até Paris.

Mas já estou mudando de assunto. É sobre Johnny que tencionei falar, não é?  Ele chegou aqui ontem de manhã com várias tintas e pinceis e fomos pintar a parede do quarto. A da sala eu já tinha pintado até onde eu alcançava, e onde eu não conseguia Johnny pintou. Partimos então para o quarto, penduramos um prisma na janela e tentamos imitar os desenhos que o prisma fazia na parede. Eram bonitos, mas na hora de reproduzi-los eles ficaram meio estranhos. Então deu minha hora de ir trabalhar e ele ficou lá pintando.
Ah, ouso dizer que agora você não é mais o único que tentou fazer de mim uma arte. Quando cheguei, ele tinha pintado meu rosto na parede, assim, bem grande, e preenchido com os desenhos do prisma. Até meus olhos são coloridos na pintura, meus cabelos parecem fumaça azul e cor de chocolate e você não se sentiria frustrado em saber que saía fumaça da minha boca também e ela podia ser de frio, mas era de cigarro. Mas Johnny já não estava lá, então fiquei sentada na cama sozinha, contemplando seu desenho. O sol já não batia mais no prisma, mas no dia seguinte, quando abri a janela, o espetáculo de cores era fascinante! Parecia que as cores saltavam e brilhavam...

E é por isso que sou abstrata.

Não sei quando Johnny volta aqui, mas tinha um bilhete no travesseiro escrito: não mexa, ainda não está acabado., e então não mexi. Juro que mandarei uma foto junto com a carta.

Au revoir, Humbert.

De sua Juliet.


Sobre a Autora:
Érica Prado Érica Prado tem 16 anos, gosta de coisas fáceis tipo miojo e, portanto, não gosta da vida. Não, você não pode simplesmente gostar dos dois.
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