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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Vícios


Peguei-me, num momento desesperado da paixão que eu sentia, pensando em como Lara dormia, e acordava completamente descoberta nos meus braços. Chega um ponto em que a paixão fica incabível, incontrolável, inaceitável, insuportável. Vira um vício, uma necessidade da mente, do corpo e da alma. Vê-la, senti-la, toca-la, ouvi-la, cheira-la, morde-la, beija-la... Tudo se torna necessário, todos os dias, em todos os lugares, em todas as horas.

Na primeira semana, eu chorei, feito um neném, um bebê, uma criança, um insano. Chorei dias seguidos, nos banheiros e nos cantos vazios. No meu lado da cama. Na mesa de jantar posta para um. No ônibus a caminho de casa. Nos intervalos do trabalho e... Cheguei até a ligar pra minha mãe, pedir colo, atenção, carinho. Queria pedir Lara, mas... Não podia. Cada pedaço do meu corpo doía toda vez que eu via um comercial de qualquer bebida que me lembrasse dela, ou perfume, ou propaganda antidrogas.

Qualquer coisa me matava de amor. De saudade. De vontade. Qualquer coisa me fazia quere-la por perto. Segurando meu pescoço nas mãos. Beijando meus lábios. Esfregando e apertando a cintura contra a minha. Pulando em cima de mim pra que eu acordasse logo. Pra “ver o sol”, conhecer o dia, dar bom dia, dar beijo, dizer olá, comprar pão e conversar com o padeiro pra fazê-lo mais feliz, coisa básica, cotidiano, dia bonito. Aquelas coisas que ela exigia, gostava, curtia me ver praticando, brincando, amando. Caralho.

Todos os dias sem Lara me causavam dor. E senti a dor, dia após dia, na esperança de num domingo de manhã, acordar com a campainha tocando. Nunca achei que fosse tão frágil, nunca achei que a vida pudesse se tornar tão difícil. Percebi que cresci subestimando pessoas sentimentais. Sempre achei que o importante era me preparar pro vestibular, e nunca me preparei para esse momento. O momento da minha decadência.  A maior prova da vida estava ali; o teste de capacidade foi ver você partindo e continuar vivendo.
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