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de Dezembro de 1948. Ela pisou em suas terras novamente. Seus pés pareciam
sentir que estavam em casa. Tirou as sandálias velhas a fim de sentir a terra
nos pés. A sensação era boa. Respirou fundo. O ar que já não era tão puro
adentrou os seus pulmões. Não era puro, mas era o ar de casa.
Seus
sentimentos eram uma mistura de felicidade, nostalgia, êxtase, saudade e
tristeza. Fora ali naquele vilarejo que vivera os melhores e piores momentos da
sua vida. Os piores momentos da sua
vida...
Abaixou-se
e agarrou as pernas em formato de concha. Os longos cabelos ruivos
arrastaram-se pelo chão terroso. Algo que estivera em sua mão a momentos atrás
caiu à frente.
Os piores dias da sua vida... Os
piores dias... Da sua vida... Sua vida...
Lágrimas
transparentes escorriam e limpavam a sujeira que o vento soprou para o rosto
da jovem mulher. Suas mãos largaram as pernas e subiram aos ouvidos, tapando-os
com força como se a intensidade da mesma pudesse influenciar no bloqueio dos
sons.
Não, Não... Por favor, ela não...
Ela não... Ela não... Ela não...
A
garota mantinha os olhos fechados, sem querer ver o que a esperava do lado de
fora. As mãos tremiam, talvez pela força depositada nelas, talvez por causa do
choro. Seus lábios se moviam, formando palavras que não deveriam ser audíveis
nem para alguém que estivesse muito próximo dela. “Por favor, não. Por favor, não.” Ela repetia e tornava a repetir.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
Subitamente,
ela gritou. “Pare, por favor, pare!” Mais
lágrimas. E tão de repente quanto veio o grito, veio o silêncio. A garota abriu
os olhos. Estava tudo bem, eles nunca mais iriam tocar nela. Estava tudo bem.
Estava
tudo bem. Exceto que essa garota ouvia vozes.
Lisandra S. Bernardo tem 15 anos e gosta de chocolate, cinema e romance. Também curte abraços, fantasias e sorrisos, só não curte não ser feliz. |