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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

acompanhe-me silenciosamente




Vamos ser pessoais, sim? Com as coisas velhas, velhas. Como contar ovelhas velhas. Um, dois, três, quatro, cinco... Deixe-me contar os anos. Deixe-me contar as incertezas. Contar os fios e as pratas. Acumular-me de você, de coisas que você faz. E não faz. E é. E insiste em ser.

Tudo o que sou destoa de você, Benjamin. Tudo. Danças cômicas, dedos melados, brigadeiro sem coco, o que aprendo, o que ensino. O que quero. Nada disso cruza seu caminho pra gente poder se esbarrar por aí. Eu sou a tormenta, você é o equilíbrio; eu sou mutável, você é sempre o mesmo; eu sou o esquerdo, você é o direito. Eu estou sempre errada, você está sempre certo. Sempre certo. Sempre com bons motivos para não me amar.

O que nos une? Acordes de piano? Línguas estranhas? As mesmas canções de sempre? Nunca falamos sobre as canções. O que nos une? Por que isso é maior do que o que nos separa?

Você não está nos meus planos, Benjamin. Eu quero...Escrever como quem toca um piano. De olhos fechados até. Ecoar como uma canção. Mas você não cabe na plateia. Ou até cabe, mas não comprou ingressos para o show. E não gosta da minha melodia. E não faz falta. Então por que sinto uma falta que não faz falta? Por que ainda em minha cabeça Benjamim, sempre em minha cabeça Benjamin, o tempo todo em minha cabeça Benjamin?

Por que Benjamin nunca mais? Por que não beija-me nunca mais? Benjamin! Benjamin! Seu nome é uma súplica. Beija-me, Benjamin! Meu sussurro, meu medo, minha fraqueza. Beija-me é sinônimo de afoga-me? De sufoca-me? De prenda-me? Porque o “solta-me” não é necessário pedir. Não é necessário que eu peça que vá embora antes de eu acordar. Não é necessário que eu peça para não voltar no dia seguinte.

E então eu traço o meu caminho para bem longe de você. E vou seguindo, e olho para trás e aceno a todo segundo. E sei que poderia voltar, mas você não está nos meus planos.

Você não cabe na minha vida, Benjamin. Não é seu lugar aqui, então por que insiste em acenar de volta? Mas permaneça assim, olhando-me caminhar para longe. Permaneça sempre ali para eu poder voltar quando quiser, porque se eu me virar e ver que virou-me as costas eu irei atrás. Eu me esquecerei do resto. Acompanhe-me em silêncio, deixe que eu me lembre ocasionalmente de você, torne-se descartável para mim como eu fui para você, mas não falte ao meu show. Não posso sentir falta do que não me falta. Não preciso da sua presença, mas sem ela tem saudade, então venha.

Acompanha-me silenciosamente. O mínimo que posso sentir é o medo de sua instabilidade. Não vire a curva. Olha de longe. Estamos longe. Estamos mantendo contato visual. Apenas contato visual.

Acompanha-me silenciosamente. Não vá embora. Não vá porque essa emoção me devora. Deixe-me saber que se eu olhar para o lado onde você está poderei olhar para seus olhos. Seus olhos! Não quero falar de seus olhos. Fecho os meus. Abro-os. Permaneça aqui.

Acompanhe-me silenciosamente. Porque um movimento em falso pode desencadear uma cadeia de pensamentos indesejáveis. Um movimento em falso e ao invés de forte, torno-me fraca e submissa. E amedrontada. Chorosa de medo. Medo, medo, medo. Da minha única fraqueza. Da sua estável incerteza. De você, de nós, dos seus efeitos. Do vício que é você.

Acompanhe-me silenciosamente. Não me deixe pensar que outra pessoa pode escrever no meu lugar, mudar o mundo no meu lugar, entrar para a história no meu lugar... mas não quero que ninguém fique com você no meu lugar. Não me deixe pensar assim!

Então por favor, por favor, apenas acompanhe-me silenciosamente. Uma palavra sua e tudo muda. Uma bomba na estrutura do meu prédio. Desabo, me lembro de como é a sensação de chorar.

Tanto faz isso tudo. Continue sozinho. Continuo sozinha também. Como num acordo silencioso, isso é tudo o que podemos fazer um pelo outro sem largar a nós mesmos. Deixe que eu continuo sendo eu inteira ao invés de um pedaço de você. Tendo minha vida inteira ao invés de um pedaço da sua.

Eu poderia me abandonar por você. Apressar-me-ia a loucura. Evitaria as tendinites.

Mas não, vamos deixar como está. Metade de bolos, laranjas podres, luzes de natal, colarinho desabotoado, correntes quebradas, livres pensamentos, lágrimas sem cair, sanidade de cristal, banhos de chuva, tendinite... Deixe assim, deixe como estar.

Nada mais de romantismos. 
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