Um dos mistérios da vida deve ser a sensação. Sim, a doce
sensação que me vem no peito quando meus olhos, mesmo que de relance visualizam
você, ou quando minhas mãos curiosas vasculham o espaço até achar um pedacinho
de pele sua. Isso é mistério, é o ponto de interrogação que me vem todos os dias,
desde quando abro os meus olhos para a claridade da manhã. É o suspense que faz
meu coração bater forte, e meu corpo suar de ansiedade. É aquele, o momento
mais esperado do filme, quando todos prendem a respiração. É assim quando te
sinto, te pressinto, te vasculho, até me encontrar, e me perco somente para me
achar de novo em você.
Mesmo quando não presta atenção, quando está pensando
silenciosamente, consegue me despertar amor. Bebendo o leite que te deixa o
fino bigode branco sobre os lábios, dormindo, fazendo aquele movimento suave
com a boca quando sorri, com malícia. Droga. Exatamente, uma droga você. Entorpece-me,
me faz emergir no carmesim, nas sedas brilhantes dos teus abraços, e depois,
quando acaba a dose e você vai para casa, eu só posso desejar mais, sonhar com
mais um punhado dessa substância alucinógena – pois vivo utopia toda vez que te
tenho. Só posso me contentar com o resto do cheiro de rosas que você deixa em
meus lençóis, que se faz presente no sofá que você senta, ou no chão que você
pisa.
Parece que o fogo te envolveu, te ardeu, te concebeu esses
caracóis vermelhos de sangue, e essa boca rubra de cereja. Quero ingerir,
possuir, sugar até o último suspiro, e te fazer renascer das chamas, como
fênix. Afinal, tão raro ser você é. Toda partida é morte, toda chegada é vida.
O mistério deve ser o medo. Não, não o medo, mas o medo de você. É perigoso, um lobo cauteloso, com
seus olhos negros, e presas brancas, atencioso ao mínimo movimento da presa,
esperando para atacar. E você me atacou, no fim das contas. Mergulhou seus
dentes em minha pele e me fez arfar. O medo é o seu adeus. Não somente o tchau
que eu ouço quando sai do portão da minha casa, mas o adeus mudo, que está no
simples olhar entristecido, ou na mágoa reprimida, mas claramente perceptível.
Eu não viveria sem essa fera. Sem o monstro que me apunhalou no ontem, que me
possui no hoje, e que não se decidiu do amanhã.
Faltaria espaço na minha cama, faltaria braço aos meus
abraços, a boca colada na minha, o cheiro, o sabor. Você.
O mistério, na verdade sou eu. Que ama incondicionalmente, e
deseja cegamente ser teu.
Não que alguém se importe, mas João é um sonhador, no começo de seus 15 anos, que só pensa em fazer Jornalismo e ter livros em todas as estantes do mundo. Isso mesmo, do MUNDO. |