para o meu Texugo.
Ela jogou o pacote no colo dele. Tinha um embrulho verde, assim
como ele gostava, mas se a indagassem com certeza diria que a escolha da cor
foi acidental. Ele a olhou, surpreso, e riu – era bem a cara dela querer
fazer uma surpresa.
– Tá esperando a morte da bezerra pra abrir ou o quê? Anda logo! –
ela disse.
Acatando ao desejo da amiga o garoto abriu o pacote. Dentro havia
nada mais, nada menos do que um livro; sua capa continha um sabão cor de rosa com
as escrituras CLUBE DA LUTA. O jovem amigo (mais velho do que ela, mas ainda
assim jovem) estava prestes a agradecer, com os olhos brilhando, quando a
menina o interrompeu:
– Não se fala sobre o Clube da Luta. – e sorriu.
– Não se fala sobre o Clube da Luta. – ele recitou e sorriu de
volta – Obrigada.
– E quem disse que eu terminei, Texugo?
Texugo era um apelido carinhoso. Todos do bairro, da internet e do
mundo que conheciam o jovem rapaz conheciam-no assim, e não pelo seu nome de
batismo.
Ela retirou outro pacote da pequena bolsa que jazia pendurada em
seu ombro esquerdo. Dessa vez azul – a cor dela, e não dele. Dentro deste, um
portfolio. Na primeira página, o desenho de um texugo guerreiro tinha sido
cravado no papel, como uma contracapa. As restantes estavam aparentemente em
branco.
O amigo não entendeu o porquê do presente, mas ainda assim
agradeceu educadamente. Só em casa, ele descobriria que o verdadeiro presente
estava entre as folhas do portfolio. Nelas ele encontraria mensagens como "EU
TE AMO" "FELIZ ANIVERSÁRIO", "OBRIGADA POR TUDO" e
"SEJA FELIZ".
E, ainda mais no fundo do portfólio, perdido na maré de páginas em
branco, um pequeno texto foi escrito à lápis fracamente:
Sempre o vi como amarelo,
Mas era um erro do meu cérebro.
Na verdade, ele é verde. Verde como...
Vit.
Vit, como vitalidade.