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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Literatura de massa ou sopa de letrinhas publicável?



“- Nossa, eu amo ler! Já li toda a coleção do Nicholas Sparks!
- Sério?! Mais o que você lê? 
- Ah, sabe, Crepúsculo e tal.
- Hm, rsrs, legal...”

Pergunto-me se Gutenberg (que Jeová o tenha), olhando para as publicações de hoje em dia, não se arrependeria amargamente de ter inventado a prensa tipográfica. Seria bom nunca ter coexistido com Cinquenta Tons de Cinza, bibliografia do Justin Bieber, os livros do Paulo Coelho, entre outros. 
Mas o alcance das grandes maravilhas da literatura também seria prejudicado, e não seria fácil sofrer com o jovem Werther ou viajar com Ulisses, então acho que ainda devemos muito ao alemão que inventou a roda dos livros. 


Livros se tornaram negócio, e a literatura foi dominada pelo interesse monetário. O resultado direto disso são enxurradas de livros clichês direcionados a determinado público-alvo, cujo conteúdo é cuidadosamente (e propositalmente) escrito para agradar o leitor. A ausência de um objetivo literário, poético, filosófico, ou o que seja dentro das obras de “literatura de massa” é preocupante pelo efeito que tem nos leitores. O que quero dizer é que muitos, principalmente os jovens, estão formando seus perfis literários embasados unicamente nesse tipo de “literatura”, e esse será, muito provavelmente, seu padrão de escrita, pensamento e, chegando mais longe, de vida. 


Esse é o problema, tomar como ponto de referência os escritos pobres e vazios que são, cada vez mais insistentemente, jogados no mercado, encabeçando as listas dos "Mais Vendidos" e se espalhando como praga. Ou seja, a tendência é piorar e cada vez mais a arte ser substituída pelo valor monetário. O mais preocupante não é a desvalorização da literatura pelos escritores, mas sim a falta de exigência dos leitores, que engolem qualquer sopa de letrinhas que seja fácil ou agradável de digerir. 


É evidente que existem outros fatores a serem considerados. Não podemos chamar ninguém de vazio ou de burro só porque lê Crepúsculo, mas o problema é quando o repertório de leitura é formado SÓ por isso. Além do que, ter essas leituras como passa tempo não é nenhum crime, embora o seu cérebro mereça coisa melhor. 
Não é a toa que Tolstoi e Flaubert foram eternizados pela história da literatura. Eles tinham algo a dizer e o disseram incrivelmente bem.


A diferença básica entre uma obra de peso e um livro comercial é o objetivo com que o autor o escreveu. Os livros de hoje em dia não dizem nada e os autores publicam pensando no dinheiro, e isso é tudo que precisamos saber sobre eles. 


Rick Riordan escreveu, só nos últimos anos (até onde sei), três sagas extremamente parecidas, cheias de clichês pré-adolescentes que fizeram a cabeça do mundo juvenil. São mais ou menos 12 livros em menos de 7 anos. Se isso não é aproveitar o sucesso e encher linguiça lançando o máximo de livros possíveis para ganhar dinheiro, não sei o que é. 
Para comparação, Proust escreveu os sete volumes de “Em Busca do Tempo Perdido” (clássico da literatura) em aproximadamente 13 anos, sem contar o tempo que o tema do livro já estava se desenvolvendo na sua cabeça. Não estou dizendo que o tempo gasto para escrever uma obra define sua qualidade, apenas explicito a sede de vender do tio Rick, publicando muitos livros (parecidos e clichês) em um curto espaço de tempo.

Termino dizendo que minha crítica não é somente para a obra escrita propriamente dita, mas também para as intenções dos autores e, principalmente, para os efeitos negativos que geram nos ditos leitores de tais obras. E olha que sonhar em achar um sadomasoquista maníaco para casar é um dos menores problemas.

ps: Todas as opiniões contidas nesse artigo são exclusivamente de seu escritor, sem nenhum vínculo com a postura do blog ou dos outros participantes. 
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