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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ode aos miseráveis




Pólvora! O que segue não é um manifesto que iniciará e guiará esta coluna, o que segue é a pólvora

“Era noite. A lua coberta por escuras nuvens não iluminava aquelas vielas sujas do centro da cidade. Ali, na sarjeta do mundo, animais que outrora foram homens corriam, alucinados, banhados em sangue e cheirando a álcool. 
Longe das corujas vigilantes que atormentam a mente com seus pios acusadores, nos porões da sociedade, onde não penetrava a luz de nenhuma lei, nenhuma ordem, nenhuma cruz; onde o brilho nos olhos era o desejo animal de ser, apenas ser, por alguns instantes, o mais vil de todos os seres sobre a terra. 
A plenitude do Homem em sua falta completa de humanidade é o mais terrível espetáculo, é a beleza em sua forma divina. Com a alma em êxtase, o espírito se esvai por entre os sorrisos maldosos de quem nada mais teme. O uivo gutural das freiras que sentem a pureza de um prazer selvagem e nunca antes estiveram tão próximas de Deus. Era o mesmo grito preso nos pulmões de todos que viveram asfixiados pela fumaça de uma sociedade pútrida.
Nesse fechar de olhos da razão, quando o certo e o errado se fundem numa orgia de morais decaídas ao esgoto, pisadas sob o vômito de todos os padrões, regurgitados por sábios ébrios sem metafísica. Eis que surge o Homem, o Ser de fato é Humano pela primeira vez. Livre de tudo que não é ele, dos venenos sociais, das quinquilharias morais inúteis.
Só a decadência pode nos erguer."
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Por que temer a natureza? Somos todos bichos e disso devemos nos orgulhar! Mandem ao lixo o bom senso, as burocracias do viver.
Somos tantas coisas que não sobra espaço para sermos nada, engolidos por essa eterna obrigação de ser alguém, esses rótulos vazios que não possuem qualquer significado. É preciso ser. Sem complementos. Façamos do “ser” verbo intransitivo.
Tornamos a vida um peso, nossa existência é nossa cruz, um fardo a se carregar. Morrem mártires aos milhões todos os dias.
Liberdade! Ser e viver. Eis nossa sina, a grande glória do Homem. Não desperdicemos a vida com a cautela, com o medo. Não sufoquemos nossa escura alma com máscaras coloridas. Sejamos, por mais horríveis que formos.
Há qualquer coisa de belo e terrível em nosso âmago. Mostre-se.
Nietzsche filosofou com o martelo. Também com o martelo devemos viver. Destruir para viver. Quebrar esse mundo decrépito, transformar em pó tudo aquilo que é sólido.
Seremos antropófagos de nós mesmos. Modernista nenhum ousou se comer. Cortaremos fora tudo que somos para simplesmente sermos. Conseguem entender? É simples, é elementar.
Perderemos nossas identidades, jamais poderão nos classificar novamente. Estaremos, enfim, livres das prisões rotulares.
Vamos, vamos! Queimem! Ponham abaixo os pilares da vida moderna. Para as latrinas com a sociedade, com a família, com os contratos sociais. Nada nos manterá no chão. Voaremos, livres. Sempre livres. Liberdade. Não temo repetições, quero que se impregnem dessa palavra, cheirem à Liberdade. Matraquearei essa ideia: liberdade, liberdade, liberdade!
Sem obrigações, sem direitos e sem deveres. A pátria dos vagabundos, dos bêbados e das putas. O paraíso.
Desordem e progresso. Não há progresso na ordem, não para o Homem.
Subverteremos os sentidos, a razão, o amor. Adeus aos dicionários, nada poderá ser definido.
Despertem das ilusões! Não sabem quem são. Parem de sonhar os sonhos dos outros.
Estão presos. Presos na própria cegueira. Saramago, o Profeta, nos avisou. Despertem!
Onde estaria agora, se pudesse?  O que faria agora, se pudesse? Quem seria?
Inventaram para vós mentiras. Ensinaram-lhe o que é preciso, o que é necessário. Disseram o certo e o errado. Mentiram. E ainda mentem.
 Não existem regras. Nada do que nos tornamos é o que realmente somos. Crescemos fantasiados, nunca permitiram que contemplássemos o espelho de nossa alma.
Questionem. Não aceitem morais que não ajudaram a erigir. Não se submetam a leis que por vocês não foram aprovadas. Não somos obrigados a nada. Nada!

Espero vocês no topo do mundo.


                                
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