(esse é um pergaminho numa garrafa ao mar)
Faz
tempo que não construo um contato com você. Confesso, não sinto falta. Ainda
parece hoje o dia em que afundei os dedos dos pés na macia e aparente areia
daquela praia. Se eu fechar os olhos e mexer os dedos dos pés vagarosamente,
ainda é possível sentir os grãos de areia fugindo dos cantinhos assim como suas
promessas fugiram de pouquinho a pouquinho. É claro que eu ainda as carreguei
pelo caminho, e excluí-las de minhas lembranças irrefutavelmente não fora tão
simples quanto algumas batidas no pé para livrar os grãos restantes e poder
seguir em frente.
Ainda
não sei exatamente onde o peso que cada promessa e lembrança suas tinham em mim
foram parar, mas a forma como elas podem me atingir atualmente está um pouco mais
longe da distancia que a gente tentou enxergar naquele mesmo dia, espreitando a
linha do horizonte. Eu não esperava tirar daquele dia feliz tantos dias
confusos quanto o balanço do mar. Sim, por algum tempo me senti simplesmente
boiando a deriva, sendo carregada pelos problemas e golpeada por muitos
solavancos que, assim como as ondas, suas ofensas me causavam.
Não
sei se você lembra que naquele dia nos questionamos o porquê de não podermos
compreender tal magnitude que era o mar. Especulamos e criamos vários motivos,
mas a admiração por ele só tendeu a crescer. Por fim, deixamos o mar levar
todas elas, e saímos de lá muito mais livres e confiantes de uma vida feliz.
Apesar de não ter visto isso concretizado, percebo que pude me curar desse
sufoco de promessas catalogadas em minha mente.
Também
não sei se os elementos presentes no mar seriam capazes de diluí-las, mas mesmo
assim, envio-as simbolicamente nesse pergaminho, visto que você nunca o lerá e
nem eu mais sei quantas elas são. Mas o peso das palavras há de servir, e,
assim, deixarei o mar levar.
Rursus.