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sábado, 31 de agosto de 2013


Querida Sophie,

Faz algum tempo desde a última vez em que te escrevi. Peço perdão. Envergonho-me por ter-te deixado sem notícias por tanto tempo – embora tenha certeza de que você não se importa realmente.
Estive viajando. Ou pelo menos é isso o que penso. A verdade é que estive viajando nos confins da minha mente (ou da mente de outro?) e agora que voltei, percebo que permaneci por muito tempo em um mundo que de modo algum me pertence; ou a ele eu não pertenço.
Sempre fui amigo da solidão e também da escuridão, como bem sabe você. Mas estive, por um tempo, chateado com ambos e por isso foi fácil para o inimigo me seduzir com sua aparente luz e felicidade. O problema é que as coisas nunca são como aparentam ser. De qualquer forma, agora que voltei tenho fugido e envergonho-me por isso. Tenho fugido da solidão, agora que aprendi o que é dizer adeus; agora que dei adeus a você (e a vocês). E tenho medo da escuridão, pois ela nunca pareceu tão verdadeira quanto me parece agora.
Uso de todos os truques que conheço para evitar ficar sozinho e quando, por fim, já não há maneiras de evitar a solidão, leio um livro; assim sei que jamais estarei à mercê desta ex-amiga que tanto me apavora.
E quanto à escuridão, não existem para mim formas de evitá-la. Lamento dizer, mas ela se encontra dentro de mim – como sempre esteve e eu achei que já tivesse partido. Tudo o que me resta é escondê-la. Dentro de mim mesmo, tranco-a em um baú impenetrável. Ou pelo menos impenetrável o suficiente para ser aberto apenas quando já não consigo adiar; durante a noite, enquanto meus pensamentos vagueiam livremente. Bem antes de dormir.
E aí vem a insônia. Ah, a insônia. Admito ter sentido falta dela, já que no outro mundo nunca a tive. Sempre foi ela a responsável por me proporcionar o tempo necessário para finalizar os meus livros. Aliás, senti falta dos livros também. Sempre foram eles os meus verdadeiros amigos. Estes, sei, nunca me deixarão. Como você deixou (ou como vocês me deixaram).

Do seu,

L.
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