Querida
Sophie,
Faz algum tempo desde a última vez em que te escrevi.
Peço perdão. Envergonho-me por ter-te deixado sem notícias por tanto tempo –
embora tenha certeza de que você não se importa realmente.
Estive viajando. Ou pelo menos é isso o que penso. A
verdade é que estive viajando nos confins da minha mente (ou da mente de
outro?) e agora que voltei, percebo que permaneci por muito tempo em um mundo
que de modo algum me pertence; ou a ele eu não pertenço.
Sempre fui amigo da solidão e também da escuridão,
como bem sabe você. Mas estive, por um tempo, chateado com ambos e por isso foi
fácil para o inimigo me seduzir com sua aparente luz e felicidade. O problema é
que as coisas nunca são como aparentam ser. De qualquer forma, agora que voltei
tenho fugido e envergonho-me por isso. Tenho fugido da solidão, agora que
aprendi o que é dizer adeus; agora que dei adeus a você (e a vocês). E tenho
medo da escuridão, pois ela nunca pareceu tão verdadeira quanto me parece
agora.
Uso de todos os truques que conheço para evitar ficar
sozinho e quando, por fim, já não há maneiras de evitar a solidão, leio um
livro; assim sei que jamais estarei à mercê desta ex-amiga que tanto me
apavora.
E quanto à escuridão, não existem para mim formas de
evitá-la. Lamento dizer, mas ela se encontra dentro de mim – como sempre esteve
e eu achei que já tivesse partido. Tudo o que me resta é escondê-la. Dentro de
mim mesmo, tranco-a em um baú impenetrável. Ou pelo menos impenetrável o
suficiente para ser aberto apenas quando já não consigo adiar; durante a noite,
enquanto meus pensamentos vagueiam livremente. Bem antes de dormir.
E aí vem a insônia. Ah, a insônia. Admito ter sentido
falta dela, já que no outro mundo nunca a tive. Sempre foi ela a responsável
por me proporcionar o tempo necessário para finalizar os meus livros. Aliás,
senti falta dos livros também. Sempre foram eles os meus verdadeiros amigos.
Estes, sei, nunca me deixarão. Como você deixou (ou como vocês me deixaram).
Do seu,
L.