Salve-se
querida e não olhe nos meus olhos. E não deixe que esse sentimento que carrego
acabe com sua beleza distópica. Porque beleza fere e eu salvo. Porque eu salvo,
mas também destruo. Obedeça-me e não olhe para o que já sabe amar. Sucumba. Reconstrua-se nessa nossa falta
de olhar – mergulhe e mergulhe e mergulhe e mergulhe... Afunde-se! Deixe-se
levar por e para mim, sempre. Permaneça imersa: uma vez mais. Mesmo sem. Mesmo
com. Mesmo, porque por mim você tem amor e por você eu tenho duas vezes mais!
Mas não desabroche, querida; não divida-se. Deixe que eu a guie por caminhos já
percorridos – por mares já navegados: por afogamentos já realizados. E
envolva-se despida de você mesma em minhas águas escuras, deixe-se levar. Morra
se preciso for! Mas salve-se! Mergulhe em mim e toque fundo; toque minh'alma
que você não vê, mas sente. Sinta-se em mim, dentro de você, rasgando seus
pulmões, queimando a carne, o tempo, o mundo. E sinta todos os sabores que a
morte pode oferecer. Porque no final Hades tem gosto de amor.
Mas só no fim.
Porque
o fim é o começo e mesmo sem saber o que sou você joga-se de
encontro as minhas águas turvas. Você não pode enxergar, mas ama. Ama seu
menino amado: seu alado. Sou seu, mas
não me rendo, pois nessa distopia do jogo da sua beleza contra a minha
escuridão (pois não pode enxergar!) são seus olhos que se rendem. E fecham-se.
E não podem enxergar, mas veem. Veem
que o que a inunda não é puro, não é verdadeiro, não é real. O que a enche é
amor.
Porque
eu posso salvar sua vida: mas você só vai (me) partir.