Mas você não merece. Será que é
por isso que eu não choro? Não faz sentido chorar. Não faz sentido nada disso.
Faz chuva, faz sol, faz com que eu derreta em solidez; faz nó na cabeça, faz
doer, faz sangrar, faz eu pirar de vez; faz sexo, faz de conta, faz eu ser mais
sua, faz tudo!
Só sentido é que não faz.
E enquanto eu piro e pioro me vem
menos coisa à cabeça e mais ao papel. Mas a inspiração que você me traz já
quase se finda. Por que tenho de escolher entre você e poesias? Quantas poesias
você pode ainda me render?
Agora vejo – fiz tantas perguntas
neste texto e nenhuma delas teve resposta. E nenhuma delas quer resposta. Elas pairam, como nós, que ficamos assim sem
esclarecimentos para os acontecimentos soltos e irracionais. É isso que somos,
irracionais! Agimos com todo o impulso dos nossos momentos, programados,
calculados e agendados, mas, ainda assim, impulsos. E todas as nossas
possibilidades são consequências. Não temos planos, não temos enganos nem
ilusões. Só a infindável corda bamba que é o futuro mudando de direção a todo
momento.
Eu não sei todas as suas
verdades, nem você sabe todas as minhas. Talvez a gente pudesse marcar um dia
pra se ajustar e deixar tudo mais claro. Tirar nossas névoas, sanar nossas
dúvidas, pagar nossas dívidas, e então seguir como planejávamos antes. Voltar a
ser o que éramos parece um desejo tão ingenuamente utópico quanto possível.
Será que morremos ou só estamos
confusos? Você passa tanto tempo tentando se encontrar que a gente desencontra.
Você passa tanto tempo tentando fingir tudo o que não é que acabo sem saber em
qual ponto foi que começou a atuar pra mim também. Sinto falta da sua
sinceridade que junto com a minha só nos trouxe problemas. Sinto falta da
ilusão de que te entendia um pouquinho, porque agora o nada me faz velejar no
vazio.
Você mudou tanto... Não ligaria
se me contasse mais uma vez os seus desejos e os seus podres e os seus medos e
os seus dias, como foram? Me deixe atualizada. Mas você mudou tanto...
Eu não conheço mais você.