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sábado, 12 de outubro de 2013

Você não merece este texto.



Queria uma poesia pra você que fosse assim, do tipo que você não merece. Floreada de tantos garranchos que por um acaso se borram por não saber nadar num mar salgado que escorre do olhar. Poesia líquida que goteja em papel também é poesia. Se eu chorasse seria melhor? Se eu chorasse seria pior? E se eu chamasse você na sexta feira pra gente se repetir, que tal? Fazer letras navegarem de leve depois de você derreter a neve do meu olhar. Vamos competir pra ver quem é mais inconstante e eu aposto com Lula o meu dedo mindinho que é você.
Mas você não merece. Será que é por isso que eu não choro? Não faz sentido chorar. Não faz sentido nada disso. Faz chuva, faz sol, faz com que eu derreta em solidez; faz nó na cabeça, faz doer, faz sangrar, faz eu pirar de vez; faz sexo, faz de conta, faz eu ser mais sua, faz tudo!
Só sentido é que não faz.
E enquanto eu piro e pioro me vem menos coisa à cabeça e mais ao papel. Mas a inspiração que você me traz já quase se finda. Por que tenho de escolher entre você e poesias? Quantas poesias você pode ainda me render?
Agora vejo – fiz tantas perguntas neste texto e nenhuma delas teve resposta. E nenhuma delas quer resposta. Elas pairam, como nós, que ficamos assim sem esclarecimentos para os acontecimentos soltos e irracionais. É isso que somos, irracionais! Agimos com todo o impulso dos nossos momentos, programados, calculados e agendados, mas, ainda assim, impulsos. E todas as nossas possibilidades são consequências. Não temos planos, não temos enganos nem ilusões. Só a infindável corda bamba que é o futuro mudando de direção a todo momento.
Eu não sei todas as suas verdades, nem você sabe todas as minhas. Talvez a gente pudesse marcar um dia pra se ajustar e deixar tudo mais claro. Tirar nossas névoas, sanar nossas dúvidas, pagar nossas dívidas, e então seguir como planejávamos antes. Voltar a ser o que éramos parece um desejo tão ingenuamente utópico quanto possível.
Será que morremos ou só estamos confusos? Você passa tanto tempo tentando se encontrar que a gente desencontra. Você passa tanto tempo tentando fingir tudo o que não é que acabo sem saber em qual ponto foi que começou a atuar pra mim também. Sinto falta da sua sinceridade que junto com a minha só nos trouxe problemas. Sinto falta da ilusão de que te entendia um pouquinho, porque agora o nada me faz velejar no vazio.
Você mudou tanto... Não ligaria se me contasse mais uma vez os seus desejos e os seus podres e os seus medos e os seus dias, como foram? Me deixe atualizada. Mas você mudou tanto...

Eu não conheço mais você.
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