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segunda-feira, 26 de maio de 2014

sobre a escrita de poesia



Nas minhas confissões eu digo que te quis como queria escrever meu primeiro poema. E era você as minhas primeiras linhas tortas onde deus não escrevia. E minhas linhas se endireitaram a ponto de se entortarem de novo.

E a minha primeira prosa foi você. Proseamos um dia inteiro e o dia pela metade me parecia. Mas o dia estava completo. Repleto da poesia que emana dos teus lábios sem que você perceba. E eu sempre recolho.

Experimentando o sabor que sai deles, percebo que Drummond, Machado de Assis, Rimbaud, Baudelaire e tantos outros não faziam a menor ideia do que era a poesia imaculada, pura e em flor. A poesia em botão que floresce junto ao meu peito. A poesia que atropela pontos e vírgulas e pausas porque é tão apaixonada que não sabe respirar enquanto percorre toda a essência do teu ser e se espalha pelo meu corpo como o perfume mais embriagante e me leva para um canto distante onde eu possa me perder.

Quem se importa com as doses de lirismo das quais me embriaguei antes de te ver naquele começo de ano que agora me soa distante? Não existia poesia antes dos meus lábios conhecerem os teus. Ninguém nunca fará uma epopeia saudando meus tempos de embriaguez. Ninguém se lembrará dos vinhos que bebi e das poesias que foram abortadas por eles. Ninguém.

Mas todos irão lembrar-se da poesia que se fez carne; a carne que é consumida por mim. Todos hão de lembrar, antes que o ocaso falhe a memória: ele tinha uma Poesia!

Sim!, ele tinha uma Poesia com letra inicial maiúscula!, dirão. Tinha ele uma sereia, uma ninfa... ou qualquer nobre atribuição que queiram lhe competir. Aliás... Não. Ela não era sereia, ninfa ou qualquer nobre atribuição que queiram lhe competir... Porque ela transcendia tudo que há e há de haver neste mundo! A poesia foge a qualquer definição e tentar defini-la seria limitar os batimentos cardíacos de uma pessoa.

Ele tinha uma Poesia., digam isso e já basta. Não se lembrem de mim. Não há necessidade; um artista que se preza sabe que quem deve ser conhecida é a obra, não o artista. Basta dizerem que ele tinha uma Poesia. E eu concordarei. Ela é sua magnum opus em suas nuances e matizes.  E eu concordarei. Todo artista que se preza sabe que há uma paixão arrebatadora e inigualável entre artista e obra. Basta dizerem que ele a amava mais que tudo.

E eu concordarei satisfeito, mesmo sabendo da dor dessa Poesia.
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