É engraçado o que venho
escrevendo por agora. É como se fosse apenas o reflexo do que era antes.
Minha chama, parece que ela se
apagou. Sobraram as fumaças, e essas fumaças são as poesias de hoje. Tudo o que
escrevo são anagramas daquilo que já fiz antes.
Minha música, parece que ela se
findou. Sobraram só os ecos, e os ecos das palavras que já escrevi outrora
parecem ser a única coisa que sei agora escrever.
Meu filme, parece que ele acabou.
Sobraram só os créditos, e eles sobem com os nomes de tudo o que já me inspirou
um dia.
Agora eu quero alguma coisa pra
sentir. Quero humanidade para preencher meus pulmões, insanidade para compor
meus versos. Quero sentir as palavras escorrendo novamente, queimando cada
célula do meu corpo, me fazendo renascer das minhas próprias cinzas.
Onde estão as minhas canções
intermináveis?, onde foram parar? Onde ficaram as lágrimas, as noites sem
dormir, os lamentos, os tormentos, os suspiros em meio ao caos universal que se
condensava no meu peito? Eu sou o escravo que sente falta de suas algemas; eu
sou a alma que corre livre pelos prados a procura de uma nova maldição; eu sou
vazio do presente que clama pelo medo e a dor do passado; eu sou aquele curado
que anseia novamente a enfermidade; aquele aleijado que deseja retornar à
cadeira; aquele... aquele... aquele o quê? Não sei dizer.
Sou poeta sem palavras. Toda a
beleza da minha dor se esvaiu. Todo o caos da minha alma se acalmou. Toda
poeira da minha memória se assentou. E no retrato de mim mesma eu fecho os
olhos com calma e dedilho o teclado como se fosse um piano, só que o que sinto
quando escrevo é, hoje, apenas o eco do que fora um dia.
Mas esse é o hoje. Apenas o hoje.
Talvez o amanhã me traga novas
palavras.