Ela mergulhou no
amor.
Sem saber o que era
o sentimento jogou-se de cabeça no infinito do olhar que resiste até o último
segundo do adeus. Imergiu. Os olhos
se fecharam com força e quando abriram-se para-lá-do-mundo encontraram a escuridão
que não vivia na claridade daquele olhar que aprendera a chamar de seu. Mas
toda luz precisa do negrume, não é? Então assim viu-se sozinha com o amor a
rodeá-la, sentindo-o em cada pequeno pedaço do seu corpo sucumbido a ele e por
ele. Pelos desejos, vontades e caprichos de ser amada, pela estranha sensação
de não pertencer-se. Era dele, a mergulhadora de amores. Era dele, como de mais ninguém seria.
Oh, mas não tinha
face o que sentia! Tinha somente claridade, escuridão e vontade. Sim, vontade
de ir mais fundo e desvendá-lo para todo o sempre, de tê-lo contra seus olhos de
cor tão desimportante. Se o olhar dela tivesse importância poderia ser ciano
como um dia fora o mar em que aprendeu a nadar. Nadava no mar e afogava-se em
amor, pois o amor troçava de todo seu corpo, brincando com o limiar de sua vida
e morte.
Contra o pulmão
faltava-lhe ar e sobrava desatenção.
E desatenta
buscava o fundo com ânsia, enquanto o amor jogava-lhe para a superfície. Não
queria os começos, bastavam-lhe os meios e os fins com suas reviravoltas e
inconstâncias, se queria buscava-os com todo afinco mergulhando cada vez mais
para a escuridão dum amor de olhos claros. Quando deu por si estava às cegas
tateando um fim que nunca chegaria, trôpega, como se em seus poros o amor
resolvesse infiltrar-se e embevecê-la em insanidade e desejos inacessíveis.
Assim cada vez
mais tresloucada ela procurava o fim inexistente, mas retornava aos inícios e
gracejos de um amor desbaratado pelos próprios amantes. O fim era o começo que
também era o próprio término. Um ciclo de amor e afogamentos onde respirar é
desnecessário, precisa-se somente sentir o torpor da escuridão de olhos claros
rasgando a pele e invadindo camada por camada da mente daquela que causou a
fúria na Vênus renascida de rancor e beleza. O amor sucumbiu com a mente de
Psiquê.
(...)
Psiquê mergulhou
em Eros.
Sem saber o que
ele era jogou-se de cabeça no infinito do olhar que resiste até o último
segundo do adeus. Emergiu. Os olhos
abriram-se e deu-se então o Caos – a alma sempre dobrar-se-ia ao amor.