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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Fantasma seu




Acordou raivosa, perigosa, assassina e facilmente irritável. Levantou da cama jogando todos os cobertores no chão, e com passadas rápidas, se dirigiu à cozinha para um café da manhã um tanto calórico. Comeu pães e mais pães, fatias e mais fatias de queijo e só quando sentia que ia explodir, ela parou, com um bolacha pendendo na mão, e desatou à chorar; um choro barulhento, doloroso e digno de pena. Sentia que podia simplesmente correr pela casa e quebrar tudo o que visse, mas estava tão cansada mentalmente que era praticamente impossível sair daquela cadeira de couro negro da cozinha.

A única coisa que foi capaz de fazer foi ligar o som no volume mais alto, a música mais estupidamente alegre que encontrasse e se deitar na cama bagunçada novamente, para começar uma sessão de mordidas na boca, choros breves e chutes no colchão da cama. Não era TPM, nem nada dessas situações femininas em que elas acordavam estressadas. Na verdade, era algo tão natural e insignificante, que não escolhia idade nem gênero, mas que a estava tirando do sério nas última semanas. Não conseguia mais suportar ter que vivenciar aquela experiência mais uma noite, para ter um manhã frustrada e um dia monocromático. Aquela sexta-feira tinha sido o fim, e ela não sabia como, mas não podia mais passar por aquilo. Ia dar um ponto final para a enchente de dor.

Ela tinha sonhado com você.

No sonho, te encontrava num ponto de ônibus, e depois de um papo agradável já trocavam carícias, beijos e do nada estavam juntos, inseparáveis, as duas únicas pessoas no mundo todo e nada poderia estragar aquele momento. Mas, para toda a sua tristeza, ela tinha acordado, para encarar o mundo real, o mundo em que você e ela nunca existiriam, onde o máximo eram olhares que se cruzavam. Você era e sempre foi o problema, e aquela manhã horripilante era um reflexo da sua presença na vida daquela garota. E o pior, era que aqueles sonhos esperançosos do inconsciente dela vinham assombrando as suas noites havia algum tempo, e destruía cada vez mais a sua alma.

Era tão deprimente só poder te ter dentro da sua cabeça, não poder sentir realmente o toque suave da sua pele, ou o abraço quente dos seus lábios. Ela se sentia tão impotente diante disso, e ainda assim se culpava. Odiava seu coração por amar alguém que não sentia o mesmo por ela. Algumas vezes, quando começou a sonhar com você, ela se alegrava por ter pelo menos aquele contato, mas depois percebeu o quanto era ruim, e que só faria aumentar seu desejo, sua paixão.

Burra, burra, burra, pensou, batendo na cabeça e se levantou, com as lágrimas secando na bochecha vermelha. Andou em direção ao computador e ligou, sentando-se na cadeira acolchoada e esperando que o monitor de acendesse. Não via muita opção, e talvez alguma rede social a fizesse esquecer aquilo, mesmo ela não estando certa disso. Em poucos segundos, abria páginas e mais páginas, tentando procurar consolo em alguma delas, mas só encontrou fotos suas, posts seus, como se um vírus com a sua cara, seu corpo tivesse invadido seu mundo só para destruí-la mais ainda.

Até que uma ideia se iluminou na sua cabeça. Parecia estúpido, desesperado, mas ainda assim precisava tentar. Alguém deveria ter a fórmula. E ela iria fazer de tudo para se livrar daquele fantasma seu, mesmo aquilo sendo tão infantil. Abriu o Google e digitou com cautela, como se uma letra pressionada errada pudesse explodir tudo. E ali estava, a busca pela salvação. Ah, como queria encontrar uma resposta...

Como me esquecer de você?

A página só precisava carregar. Cruzou os dedos. 
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