Acordou raivosa, perigosa, assassina e facilmente irritável.
Levantou da cama jogando todos os cobertores no chão, e com passadas rápidas,
se dirigiu à cozinha para um café da manhã um tanto calórico. Comeu pães e mais
pães, fatias e mais fatias de queijo e só quando sentia que ia explodir, ela
parou, com um bolacha pendendo na mão, e desatou à chorar; um choro barulhento,
doloroso e digno de pena. Sentia que podia simplesmente correr pela casa e
quebrar tudo o que visse, mas estava tão cansada mentalmente que era
praticamente impossível sair daquela cadeira de couro negro da cozinha.
A única coisa que foi capaz de fazer foi ligar o som no
volume mais alto, a música mais estupidamente alegre que encontrasse e se
deitar na cama bagunçada novamente, para começar uma sessão de mordidas na
boca, choros breves e chutes no colchão da cama. Não era TPM, nem nada dessas
situações femininas em que elas acordavam estressadas. Na verdade, era algo tão
natural e insignificante, que não escolhia idade nem gênero, mas que a estava
tirando do sério nas última semanas. Não conseguia mais suportar ter que
vivenciar aquela experiência mais uma noite, para ter um manhã frustrada e um
dia monocromático. Aquela sexta-feira tinha sido o fim, e ela não sabia como,
mas não podia mais passar por aquilo. Ia dar um ponto final para a enchente de
dor.
Ela tinha sonhado com você.
No sonho, te encontrava num ponto de ônibus, e depois de um
papo agradável já trocavam carícias, beijos e do nada estavam juntos, inseparáveis,
as duas únicas pessoas no mundo todo e nada poderia estragar aquele momento. Mas,
para toda a sua tristeza, ela tinha acordado, para encarar o mundo real, o
mundo em que você e ela nunca existiriam, onde o máximo eram olhares que se
cruzavam. Você era e sempre foi o problema, e aquela manhã horripilante era um
reflexo da sua presença na vida daquela garota. E o pior, era que aqueles
sonhos esperançosos do inconsciente dela vinham assombrando as suas noites
havia algum tempo, e destruía cada vez mais a sua alma.
Era tão deprimente só poder te ter dentro da sua cabeça, não
poder sentir realmente o toque suave da sua pele, ou o abraço quente dos seus
lábios. Ela se sentia tão impotente diante disso, e ainda assim se culpava.
Odiava seu coração por amar alguém que não sentia o mesmo por ela. Algumas
vezes, quando começou a sonhar com você, ela se alegrava por ter pelo menos
aquele contato, mas depois percebeu o quanto era ruim, e que só faria aumentar
seu desejo, sua paixão.
Burra, burra, burra, pensou, batendo na cabeça e se
levantou, com as lágrimas secando na bochecha vermelha. Andou em direção ao
computador e ligou, sentando-se na cadeira acolchoada e esperando que o monitor
de acendesse. Não via muita opção, e talvez alguma rede social a fizesse
esquecer aquilo, mesmo ela não estando certa disso. Em poucos segundos, abria
páginas e mais páginas, tentando procurar consolo em alguma delas, mas só
encontrou fotos suas, posts seus, como se um vírus com a sua cara, seu corpo
tivesse invadido seu mundo só para destruí-la mais ainda.
Até que uma ideia se iluminou na sua cabeça. Parecia
estúpido, desesperado, mas ainda assim precisava tentar. Alguém deveria ter a
fórmula. E ela iria fazer de tudo para se livrar daquele fantasma seu, mesmo
aquilo sendo tão infantil. Abriu o Google e digitou com cautela, como se uma
letra pressionada errada pudesse explodir tudo. E ali estava, a busca pela
salvação. Ah, como queria encontrar uma resposta...
Como me esquecer de você?
A página só precisava carregar. Cruzou os dedos.