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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

[ESPECIAL DE DIA DAS BRUXAS] - Sleep, Baby, Sleep


Para comemorar o famoso (não tanto aqui no Brasil, infelizmente) Dia das Bruxas, a Decadência (mais especificamente eu - João Victor -, Erica e Lucas) decidimos fazer um "especial", para comemorar a data. Afinal, o que mais poderia fazer A Decadência pelo seus leitores no Halloween, se não alertar sobre os perigos da data? Hahaha Divirtam-se!


A hora mais odiada e mais necessária do dia havia chegado tão rapidamente que quando viu que já era tempo de descer do seu pequeno e precário apartamento para ir para o trabalho, assustou-se. Vestiu o vestido vermelho com aberturas nas costas e um decote grande na região dos seios, que deixava suas pernas bem à mostra e apertava bastante nos quadris, aumentando ainda mais o volume que tinha. Era naquele momento que dava adeus à sua real identidade e passava a se chamar Suzy, uma das mais famosas prostitutas da Avenida Madalena.  Vamos dar, por que viver está complicado, pensou, rindo da piada sem-graça e cruel que tinha de aturar todos os dias desde que completara os seus 10 anos de idade.

Penteou os cabelos negros e lisos e passou um batom de uma cor aproximada à do vestido, e saiu com seu salto alto, para uma caminhada de vinte minutos até lá. A noite já caía, e o céu estava com uma tonalidade roxa, com pequenos pontinhos luminosos e uma lua cheia e azulada pendendo no céu. A noite era tranquila e fria, e o único som que escutou era o de carros passando ao longe, na Avenida para onde seguia naquele exato momento. A brisa parecia trazer consigo um mar de maus presságios, e toda vez que dava um passo, um calafrio congelava o seu corpo e eriçava a camada fina de pelos em seus braços. Não se sentia assim indo para o ponto desde que começara a vida como prostituta, e a sensação lhe trazia à mente momentos cruéis, brutais e dolorosos que sofrera naquela época. Tentou afastar aquilo, e seguiu o resto do caminho fazendo de tudo para se focar em coisas positivas.

A Avenida estava movimentada, como sempre, e as outras quengas estavam espalhadas por toda a sua extensão, numa distância razoável de uma para a outra, embora algumas delas preferissem fazer pequenos grupos e revezarem. Elas costumavam se dividir por preço. No começo da rua, as mais baratas, até chegar ao seu fim, onde Suzy se encontrava. Seu trabalho era bom, e como todos os clientes gostavam de dizer, valia muito a pena o preço pago. A situação em sua vida pessoal era complicada, e usar desse pretexto de fazer o serviço direito uma forma de ganhar mais foi interessante para ela. Os homens e até mesmo algumas mulheres preferiam à ela na maioria dos casos. Talvez achassem que o seu aspecto mais limpo se comparado às outras valesse a pena o preço alto. Ela não sabia ao certo, mas dificilmente o seu espaço estava vazio, sem nenhum carro estacionado com um cliente louco por sexo fácil.

Logo que chegou, esperou poucos minutos até que um veículo amarelo parasse em sua frente com o vidro aberto, perguntando quanto era o programa. Em pouco tempo estava dentro do seu carro, do seu quarto, sobre a sua cama, com ele dentro de si, e mesmo que os calafrios persistissem, ela fez tudo como mandava o figurino, e assim passou a noite, entre programas e mais programas e notas de dinheiro. E só ás duas da manhã pareceu ter um folga para se sentar no meio fio e descansar um pouco. Tragou um cigarro e ficou olhando as poucas nuvens caminharem pelo céu, desaparecendo por detrás dos prédios.

Um carro parou na sua frente, e ela, distraída, só prestou atenção quando a buzina atacou seus ouvidos. Levantou-se apressada e jogou o cigarro no chão, ajeitando o vestido. Encostou na janela que se abria devagar. Lá dentro, duas figuras estranhas estavam sentadas. Um tinha uma máscara de lobo, enquanto o outro usava um gato para esconder as verdadeiras feições. Estava tão acostumada com todo o tipo de louco por aquelas bandas, que só fez o mesmo de sempre.

― Os gostosões querem uma noitada gostosa, é? ― E mordeu os lábios vermelhos. Eles, por sua vez, continuaram observando-a sem alguma expressão. Despois de alguns segundos, quando Suzy arqueou as sobrancelhas, o com cara de gato sacou do bolso duas notas de cem reais e uma de cinquenta, entregado em suas mãos. Era mais do que ela cobrava, mas aceitou de bom grado. Sem esperar algum convite, entrou no banco traseiro e acomodou-se. O carro acelerou-se, e durante todo o caminho as duas figuras permaneceram quietas.

Ela não pode evitar, e esteve receosa durante todo o tempo, mas não fez nada além de permanecer sentada e observar atentamente o caminho que seguiam. Com o passar do tempo, ela foi percebendo que as máscaras cobriam toda a parte acima do pescoço deles e que eram bastante benfeitas, trazendo um ar bem realista a fantasia deles.

O carro estacionou num local mal iluminado e deserto, em frente a uma casa com uma aparência de abandonada. Eles saltaram do carro e Suzy os imitou, consertando o vestido que insistia em descobrir mais e mais suas pernas. Não que se importasse, mas com aquele frio que fazia, qualquer lugar que se pudesse cobrir era lucro. Ficou esperando enquanto os dois se entreolhavam. O com cara de lobo enfiou a mão no bolso e a segurou pelo braço, levando-a até um muro ao lado da porta da casa. Ela sorria, maliciosa, esperando por algum sexo selvagem, e usou a mão livre para acariciar o volume entra as penas do homem, porém este afastou a sua mão. Jogou-a contra a parede com uma força desnecessária e tapou a sua boca com a mão. Suzy permaneceu parada, esperando pela ação do homem-lobo, sem demonstrar pânico. Aquele trabalho requeria calma. Eles eram mais um daqueles loucos sadomasoquistas, somente isso.

Mas o que ela não esperava, era ver que na mão que ele tirava cuidadosamente do bolso, estava um agulha grande e fina, com um líquido de aparência espessa dentro. Arregalou os olhos, e seu grito foi abafado pela mão que apertava os seus lábios. Tentou afastar a agulha que se aproximava com as mãos, mas ele logo a controlou. Em poucos segundos, ele injetava aquele líquido em suas veias, e ela caía num sono profundo.

- - - -

Acordou, e estava sentada numa cadeira dura e fria de madeira, com as mãos amarradas ás costas e as pernas presas aos pés da cadeira. Levantou a cabeça, e percebeu que estava sozinha num cômodo escuro, iluminado apenas pela luz fantasmagórica da lua. Gritou, mas se estivesse dentro da casa na qual havia parado junto com os dois homens estranhos, seria inútil. Não parecia que haviam vizinhos. Seu rosto parecia inchado, e as bochechas doíam, como se tivesse levado um soco no local. A boca tinha cortes profundos que dificultava o chamado de socorro, e os pulsos doíam. Parecia que o sangue não circulava por suas mãos haviam horas, e sentia a ponta dos dedos começando a adormecer.

― Alguém? Tem alguém aí? ― Disse, olhando para os lados, procurando pelo menos uma sombra dos homens com cara de animal que havia a levado até ali, mas nada parecia se mover, e ela tinha tudo para ser o único ser presente ali. O desespero só fez aumentar com o passar do tempo, e seu coração parecia estar se debatendo violentamente em seu peito, numa busca para fugir dali. Tentou de todas as maneiras se levantar, mas o fato de seus pés estarem presos nas pernas da cadeira dificultava o processo.

Até que, do além, uma voz aguda e estranha veio, aumentando a cada segundo, até tomar todo o espaço num barulho ensurdecedor. As janelas vibravam com a música estrangeira suave, desconhecida para Suzy. Ela não sabia como, mas podia jurar que era uma canção de ninar. As notas calmas, e a melodia devagar...

Olhou para trás, procurando a origem do som, mas a única coisa que viu foi uma sombra passando rápida por uma das janelas e a fez pular de susto.

― Quem é? Quem é? ― Começou um choro agonizante e tentou mais uma vez soltar as mãos, mas o seu desespero de nada adiantava. Ninguém a respondia, e começou a duvidar se alguém realmente a escutava. Poderia ser uma ilusão da sua cabeça? Podia estar sonhando? Será que aquele lugar sombrio e aquela música doentia não era na verdade um estado de torpor da sua mente? Um efeito da droga que o homem com cara de lobo havia injetado no seu braço direito, talvez. Mas a dor, o som, tudo era tão tocável, doloroso que não podia ser coisa da sua cabeça. O suor logo começou a escorrer por sua testa, e em pouco tempo seus seios, quadril, braços e pernas estavam encharcados pela camada pegajosa de suor.

Abaixou a cabeça, e ficou naquela posição, chorando por um tempo que não sabia dizer. Só foi chamada a atenção quando um corpo se projetou na sua frente, olhando-a furtivamente, com aquela máscara perfeita de gato que parecia tão real. Sua mão se aproximava do seu rosto e ela tentou se afastar, mas o assento da cadeira tornava impossível. Ele tocou suas bochechas fortemente, e logo prendia seu rosto com força. Tentou gritar, mas ele era forte demais. Na outra mão ele trazia um faca afiada que brilhava sob a luz azul da lua.

― NÃO! POR FAVOR... ― Mas foi inútil, logo a lâmina estava se aproximando das suas pernas, e entrava pela carne das suas coxas, fazendo seu corpo de contrair de dor. Não se lembrava de sentir algo tão horrível como aquilo antes. Não conseguiu parar de gritar, e no meio de lágrimas e suor escorrendo, sentiu que ele retirava a faca de sua perna, e observava sem expressão o sangue que escorria e pingava no chão. Não demorou muito e logo ele estava delineando o seu rosto com a ponta afiada da lâmina. Ofegou, e por um momento a dor na perna não era mais nada, pois um corte profundo nascia lentamente em suas têmporas e fazia um líquido grosso e rubro escorrer.

Gritou e gritou, mas enquanto o homem fazia o caminho em seu rosto nada o fez parar. Ela sabia qual seria o seu destino, e tentou de todas as formas acelerar a sua morte, mas ele gostava do seu sofrimento. Alguns minutos se passaram e ela já não tinha mais um dos polegares, e um corte sangrava na lateral do seu pescoço. Estava tonta, praticamente não sentia mais nada, e um bolo estranho se formava em seu estômago. Vomitou, e junto com o vômito, veio também sangue, dor e sofrimento. Não entendia nada daquilo e preferia não entender. Sua cabeça estava um tanto conturbada para raciocinar.

Já sentia que as forças estavam lhe escapando quando escutou pela primeira vez aquela noite a voz do homem estranho.

― Agora é a hora da princesinha dormir...

E a faca perfurou seu estômago. Antes do amanhecer Suzy já se encontrava morta, e junto com ela, mais outras sete prostitutas que haviam experimentado o mesmo fim trágico. 
Sobre o Autor:
João Victor Ferraz Não que alguém se importe, mas João é um sonhador, no fim dos seus 14 anos, que sonha em fazer Jornalismo e ter livros em todas as estantes do mundo. Isso mesmo, do MUNDO.
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