Sentada sobre uma
antiga cadeira de balanço que pertencia à sua vó, a garota acariciou a barriga.
Tinha treze anos e ar de cansada da vida, a criança em seu útero acabava de completar sete meses – uma menina.
Suspirou. As lágrimas
começaram a cair involuntariamente. Era isso, em dois meses sua filhinha iria
nascer e essa agora seria a sua nova história. Ser mãe... Ela nunca pensou
nisso seriamente. Balançou a cadeira.
Se alguém a olhasse de
frente, perceberia que seus olhos castanhos já não brilhavam como antes –
naturalmente, ela já não tinha em posse a própria vida –, mas se esse mesmo
alguém soubesse que ainda existia uma razão, apenas uma, que fazia seus olhos
brilharem de vez em quando. Bem, ele saberia que aquela garota ainda não estava
completamente perdida.
Porque
eles brilhavam no palco.
Plié, elevé e grand getê,
cada passinho que dava com as sapatilhas nos pés era motivo de felicidade. Ela
tinha presença, a menina. Sonhava em voltar a dançar, em voltar a brilhar (porque
certas pessoas nascem para isso, para brilhar), mas era apenas isso: sonhos.
Inconsistentes sonhos.
E juro, a garota
tentaria, mas nunca conseguiria amar sua filha. Aliás, ela nunca foi realmente
capaz de amar ninguém. Amou por toda a vida apenas o seu palco. Seu único amigo.
O único que a amou. E por isso, julgo, não acho que ela saiba o significado
verdadeiro da palavra amor. Ora, ela nunca foi amada, não é? Apenas... traída.
A cadeira foi balançada
pela segunda vez. O choro silencioso ainda não havia cessado. A mão acariciou a
barriga de novo. Os olhos da garota se fecharam.