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sábado, 20 de abril de 2013

Antropologia dos Tempos Modernos: Hipsters



Nós vamos fazer uma festa com a crème de la crème hipster vestindo animal print e tintas neon. E não, você e seus filmes quase cult, livros empoeirados demais e calças bag não estão convidados. Mas se quiser penetrar sinta-se a vontade, na verdade pode até fazer isso. Não nos importamos para você e suas roupas de fast fashion, seus conceitos, filosofias e ideais. Na verdade só ligamos para o que nos cerca – talvez animal print esteja out, certo?

Vamos dançar em cima da mesa do modo mais educado que conseguirmos, e sim, isso é possível. Algumas as menininhas vão estar chapadas demais dentro de seus vestidinhos vintage de cintura marcada e sapato meia-pata para reparar que os rapazes de coturno, camiseta mal recortada e barba saliente estão as carregando para um lugar qualquer onde possam perder a virgindade pela quinta vez na noite.  Isso sem falar nos beijos tripos entre qualquer sexo, cor e naturalidade. Eu particularmente adoro francesas, porque elas fazem qualquer coisa com a boca, certa vez uma dessas francezinhas conseguiu dar um nó no cabo de uma cereja só com a língua, mesmo que isso seja pra lá de mainstream.

As Doc Marten full color vão contrastar com a luz escura da pista de dança. E aquele indie-chiclete que você ouve não vai tocar, talvez Frank Ocean e Madonna, nada de Lady GaGa, pelo amor de Deus.  Conhece alguma coisa de Dance Punk? Mas quem é você, aliás e por que estou aqui perdendo meu tempo te explicando coisas que você nem tem noção do que seja? Não, não vou admitir que lá no final de noite todos vibrem com Born This Way, fiquemos só com o sadomaso musical, afinal Aranea Peel é o novo Marilyn Manson!

Vamos abominar quem estiver com vestido de bandagem, mas será bem aceito de estiver com uma peça de Betsey. Vivemos em um modelo global, nosso mundo somos nós mesmos e tudo que conseguimos pagar com o suor do trabalho dos nossos pais. Mas não somos aqueles riquinhos chatos que estão chapados demais no Spring Break e ficam distribuindo aqueles colares ridículos só para ver alguns peitos – uns gostosos, até. Somos os construtores do que você vai ouvir daqui a cinco anos, vestir a uns dez, mas nunca vai viver. Criamos o seu tendecionismo com as nossas escolhas e por favor, Zooey Deschanel não nos representa.

[...]

Não somos os certinhos engravatados do Upper East Side, nos damos melhor com os artistas do Brooklyn e os visitantes frequentes da Augusta. Eu pelo menos tenho a classe de usar o paletó antigo com meu avô, calça de couro skinny , botas de combate, anéis de caveira, cabeça raspada e uma camisa XG, mas essa última é exceção. Oito anos atrás eu usava a sua Thug Nine que agora pega ônibus lotado ou entra pela frente sem pagar, dependendo do contexto.

E sim, eu li Kafka com cinco anos, enquanto você vivia pros Três Porquinhos ou Cinderela, se fosse um enrustido como meu amigo M.K. que prefere não se identificar. Não, eu nunca fiquei por ele, principalmente porque ele faz o meu tipo, simples. Até tentei, mas realmente prefiro as ruivas bonitinhas de cinta-liga, cabelos curtos e muito delineador, mas que no dia seguinte mais parecem de qualquer girl band asiática que você nem ouviu falar. Somos mutantes de nós mesmos; não temos identidade ou rótulos. Mas somos rotuláveis e identificáveis. Sociológicos. Antropológicos. Morfológicos. Tipográficos – sempre em Helvetica.

Lemos crítica de arte e criamos nossas próprias resenhas, visitamos galerias e instituições beneficentes para colocar a foto no instagram que você aos poucos está destruindo. Nadamos em lagos termal no inverno e fugimos das suas praias lotadas. Mas você não precisa saber de nada disso porque nem ao menos é um de nós. E não, ter visto os Sonhadores não te torna especial – e você não pode pegar personagens para você, portanto o Theo nunca será seu.

Você pode até comprar a Piauí, mas duvido que entenda alguma coisa. Por sinal, ler escondido a Vogue da sua prima não o torna especialista em tendência alguma, aliás, a Vogue nem é tendência para ninguém, que Anna Wintour me perdoe. Só a Vogue ucraniana e olhe lá.

Somos apaixonados pelo nosso estilo de vida que pode ser caricaturado, pisado e ignorado. Nós nem ligamos para o seu ignorar, até achamos melhor que seja assim: cada um no seu lugar. Leia Proust quantas vezes quiser e se diga o mais inteligente da escolinha, mas lembre-se: discuti com meu professor da oitava série por causa de um tal tempo perdido...

Mas voltando ao assunto principal: você acha animal print out?



  Lucas RodriguesNascido no inverno de 92, cursa Letras, mas pretende cursar em breve História da Arte. Não é um hipster com óculos sem lente. Muito menos usa calça skinny de couro – ele prefere os jeans largos mesmo. Mas gosta de camisas XG e acha animal print out.
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