Home

domingo, 21 de abril de 2013

As Crianças Perdidas



Os olhos fechados. O som das ondas batendo nas rochas ao mar. O vento bagunçando o cabelo de índio. E mais nada. Eram crianças. Todos eles eram crianças. Crianças normais - se seus olhos permanecessem fechados -, mas que guardavam grandes tristezas que só poderiam ser vistas ao abrir das janelas de suas almas.

Todas elas tinham aquilo; aquele olhar. Olhar de menino abandonado. Olhar de criança sem pai, nem mãe. Olhar de quem cresce sozinho e todos os dias fecha os olhos para conseguir enxergar o mar. Os olhos pequenininhos, que abertos tinham marcas de falta de carinho. As mãos miudinhas, que já cedo aprendiam a cuidar de si.

Alguns foram à escola; sabiam escrever. Escreviam cartas, seja para o Papai Noel ou para o Papai do Céu. Algumas das crianças eram até poetas sem saber: tem gente que nasce poeta e gente que vira sem querer. Eles se tornaram poetas pelas circunstâncias da vida. Danada, essa vida. Tira amor da gente pra gente aprender a escrever sobre amar. Ou sobre a falta de amor? Talvez sobre a carência de amar.

E as crianças, essas danadas, aprontavam que só ali perto do mar. Viviam ali mesmo, não sozinhos, uns com os outros. Chamavam a si próprios de Crianças Perdidas. Mas até que eram bem achadas. Descontavam no mundo a dor que sentiam pelo que lhes foi tirado à força. Fingiam não ter medo de nada, mas eu bem sei que eles tinham medo da noite. É que de noite não tinha mãe, nem pai pra segurar na mão ou contar estória pra dormir. De noite só tinha o mar, e para ouvir suas estórias era preciso saber escutar.


Boa Noite!



*As Crianças Perdidas será uma sequência de textos sobre 7 garotos que representarão a dor, a saudade, a inocência, a paixão, a solidão, a responsabilidade e o orgulho. Cada qual com sua história diferenciada, mas que se cruza no Mar dos Perdidos.
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

M. Deméter disse...

"Escreviam cartas, seja para o Papai Noel ou para o Papai do Céu. Algumas das crianças eram até poetas sem saber: tem gente que nasce poeta e gente que vira sem querer."

"Tira amor da gente pra gente aprender a escrever sobre amar. Ou sobre a falta de amor? Talvez sobre a carência de amar."

Poxa, que lindo. E triste. Mas lindo. Lindo, lindo.
Cê tinha que pegar um texto seu de quando você começou e ler esses de agora pra ver como tá tão desenvolvida a escrita, cheia de palavras bonitas e frases poéticas e. e. e. Poxa, tá lindo demais.

Virei sua fã-fã, e não só sua fã-mãe. ♥

Lisandra São Bernardo disse...

Eu sei que você tem razão, mas ainda quero e pretendo melhorar muito! Aprendi bastante com vocês lá da HPBF e d'O Sótão. Só tenho a agradecer! Obrigada! E obrigada por ser minha fã também! OSIUAHOSIUAH <3