Todas as noites antes de dormir ele contabilizava os seus ganhos do dia. Planejava o dia seguinte e realmente acreditava que lá na frente, bem no futuro, ele poderia olhar de cima das nuvens e ver que todo o seu esforço valeu a pena. Que torar-se-ia bem sucedido. Que valeu a pena ter ouvido seus pais. Que as lembranças seriam satisfatórias. Que o futuro compensaria o presente.
E, num universo tão grande, cheio de pontos, ele olhava para um só. Traçava uma reta porque é a menor distância entre dois pontos, e ele tinha pressa. Então andava sobre a linha seu anzol. Se torturava quando entortava, emendava quando quebrava, e seguia caminhando sem saber de fato o que era aquele ponto, ou por que queria chegar lá. Sobrevivência? Necessidade?
E sempre contabilizava os passos dados antes de dormir.
Até que percebeu que dormir era perda de tempo.
Resolveu então ficar acordado e caminhando, para chegar na frente ou pelo menos chegar em vida. Bebia mais água para poder ter com o que suar; gastava mais dinheiro para ter por que ganhar. Comia muito para ter forças, trabalhar e poder comprar comida. E, como não mais dormia, contabilizava tudo acordado mesmo, enquanto andava.
E foi cansando, cansando... Acumulou bagagens que pesavam e então jogou fora o que não precisava: juventude, liberdade, vida, humanidade. Carregava suas responsabilidades e era muito admirado por isso.
Ele realmente andava na linha.
E aconteceu. Sem realmente reparar, como eu disse, que havia outros pontos no universo, ele chegou àquele tão desejado: o ponto onde ele poderia enfim descansar da grande jornada que empreendeu tentando buscá-lo.
Sobre a Autora:
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Érica Prado tem 16 anos, pretende cursar história, ouve metal e reclamações o tempo todo. Gosta de coisas fáceis tipo miojo e, portanto, não gosta da vida. Não, você não pode simplesmente gostar dos dois. |